terça-feira, 18 de junho de 2019

ALFREDO VEIRAVÉ



MUITOS ESCRITORES TÊM QUE DEDICAR-SE AO ENSINO PARA SOBREVIVER

Muitos escritores do nosso tempo têm que dedicar-se ao ensino
nos claustros pontificais para sobreviver:
tiram todas as manhãs das gaiolas os grandes pássaros do amanhecer
sacodem-lhes a plumagem negra e põem-lhes grãos de ouro no bico
Queriam poder navegar na marina e entrar no Oceano
ou levar as notícias dos canibais sul-americanos à delicada Florença
mas a sua missão na catequização dos locais é mais
                                                                                           triste:
abrem
e
fecham
os evangelhos carcomidos pela atmosfera salgada
do Oceano e enquanto ensinam a palavra de Deus
«aquele que põe a alma em paz» (dizem), «aquele que organiza o caos»
                                                                                          (abjuram)
sonham com músicos ciganos com actores da Bretanha e para cúmulo
com as belas putas que vivem de rendas nos palácios
                                                                                           de Ayesha
e por cima das Epístolas de Paulo vêem belos cus redondos
(e)
castos que desejam beijar ou morder
nos dias de chuva.


Com uma infância e adolescência passadas na província, tornou-se professor de Literatura Latino Americana na Universidade Nacional do Nordeste. Foi Prémio Nacional de Poesia Leopoldo Lugones. Poeta, ensaísta, crítico literário, exerceu uma forte influência na década de 1950. Foi nessa época que a sua poesia revelou uma forte inflexão na direcção da chamada «antipoesia», tornando os seus poemas mais narrativos, irónicos, abertos a inúmeras e aparentemente contraditórias referências.  Alfredo Veiravé (n. Gualeguay, Entre Ríos, 29 de Março de 1928 – m. Resistencia, Chaco, 22 de Novembro de 1991), versão de HMBF a partir do original coligido por Marta Ferrari, in Antología – La poesia del signo XX en Argentina, vol. 7 da colecção La Estafeta del Viento, dirigida por Luis García Montero e Jesús García Sánchez, Visor Libros, 2010, pp. 290-291.

Sem comentários: