MUITOS ESCRITORES TÊM QUE DEDICAR-SE AO ENSINO PARA
SOBREVIVER
Muitos escritores do nosso tempo têm que dedicar-se ao
ensino
nos claustros pontificais para sobreviver:
tiram todas as manhãs das gaiolas os grandes pássaros do
amanhecer
sacodem-lhes a plumagem negra e põem-lhes grãos de ouro
no bico
Queriam poder navegar na marina e entrar no Oceano
ou levar as notícias dos canibais sul-americanos à
delicada Florença
mas a sua missão na catequização dos locais é mais
triste:
abrem
e
fecham
os evangelhos carcomidos pela atmosfera salgada
do Oceano e enquanto ensinam a palavra de Deus
«aquele que põe a alma em paz» (dizem), «aquele que organiza o
caos»
(abjuram)
sonham com músicos ciganos com actores da Bretanha e para
cúmulo
com as belas putas que vivem de rendas nos palácios
de Ayesha
e por cima das Epístolas de Paulo vêem belos cus redondos
(e)
castos que desejam beijar ou morder
nos dias de chuva.
Com uma infância e adolescência passadas na província,
tornou-se professor de Literatura Latino Americana na Universidade Nacional do
Nordeste. Foi Prémio Nacional de Poesia Leopoldo Lugones. Poeta, ensaísta,
crítico literário, exerceu uma forte influência na década de 1950. Foi nessa
época que a sua poesia revelou uma forte inflexão na direcção da chamada «antipoesia»,
tornando os seus poemas mais narrativos, irónicos, abertos a inúmeras e
aparentemente contraditórias referências. Alfredo Veiravé (n. Gualeguay, Entre Ríos, 29
de Março de 1928 – m. Resistencia, Chaco, 22 de Novembro de 1991), versão de
HMBF a partir do original coligido por Marta Ferrari, in Antología – La
poesia del signo XX en Argentina, vol. 7 da colecção La Estafeta del
Viento, dirigida por Luis García Montero e Jesús García Sánchez, Visor Libros,
2010, pp. 290-291.
Sem comentários:
Enviar um comentário