Era sempre a mesma coisa: Hélène recebia-o com prazer, mas ao fim de cinco minutos estava aborrecida ao pé dele. Examinava-o com um olhar crítico; era um rapaz bonito com a sua guedelha loira e a sua pele fresca, salpicada de ruivo; mas, por baixo da testa saliente, os olhos eram demasiado doces. A concha era dura mas transparente; apercebia-se através dela um inocente molúsculo igual ao que ela descobria em si própria.
- Em que estás a pensar? - perguntou Paul.
- Descobri que a vida não é muito divertida - disse Hélène.
- Tu tens sorte, apesar de tudo - disse Paul. - Pensa que se tivesses de trabalhar oito horas por dia num escritório ou numa fábrica...
- Mais vale uma pessoa suicidar-se - disse Hélène. Acrescentou num tom agressivo: - Pergunto a mim mesma como fazes para estar sempre de bom humor.
- Sabes, entre os operários, não passamos o tempo a ocuparmo-nos com os humores de cada um - disse Paul um pouco secamente.
Fotografia: Jorge Aguiar Oliveira.
Texto: Simone de Beauvoir.
4 comentários:
Excelente texto. Podia-me informar de que obra foi tirado?
Dar-lhe-ei essa informação por e-mail, se me disser o seu nome, contacto e número de BI.
E se me fornecer a sua morada até lhe digo quem traduziu.
A provocação não é só nas "Etiquetas"...:)
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