Calçada da Glória, Lisboa. 2012.
Nos contos estúpidos da minha infância, aparecia frequentemente, por exemplo, a personagem do «vagabundo» ou do «rapaz pobre» que entra ao serviço do rei para conquistar a mão da princesa, e com prazer, porque o preço a pagar se resume apenas a sete dias. «Mas, comigo, sete dias são sete anos!» - diz-lhe o rei; pois bem, posso dizer a mesma coisa do campo de concentração. Nunca teria imaginado, por exemplo, que me transformaria tão depressa num velho engelhado. Na nossa terra, é preciso tempo, cinquenta ou sessenta anos, pelo menos; no campo, bastaram três meses para que o corpo me traísse. Posso garantir que não há nada mais penoso, que mais desanime, do que verificar, e assistir, dia após dia, ao que morre em nós.
Fotografia: Jorge Aguiar Oliveira.
Texto: Imre Kertész
2 comentários:
Hmmm...forte!
Pois é.
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