quarta-feira, 23 de maio de 2018

JÚLIO POMAR (1926-2018)


Entre os artistas figurativos mais valorizados nas Exposições Independentes (1943-1950) e nas Exposições Gerais (1946-1956), encontravam-se Júlio, Avelino Cunhal (1887-1966), Manuel Ribeiro de Pavia (1910-1957), Júlio Pomar, Lima de Freitas (1927-1998), João Abel Manta (n. 1928), Rolando Sá Nogueira (n. 1921), Mário Dionísio, Alice Jorge (n. 1924), Augusto Gomes (1910-1976), João Hogan (1914-1988), Nikias Skapinakis (n. 1931), Rui Filipe (n. 1928), Rogério Ribeiro (n. 1930), Lagoa Henriques (n. 1923), Bartolomeu Cid (n. 1931), António Charrua (n. 1925), António Domingues (n. 1921), Querubim Lapa (n. 1925), Arlindo Vicente (1906-1978) e, prolongando o naturalismo, Falcão Trigoso (1879-1956) e António Saúde (1875-1958).
   Júlio Pomar foi o que mais se distinguiu. O seu quadro O Gadanheiro (1945) revela o entendimento do americano Thomas Benton. A apresentação de O Almoço do Trolha, em 1947, constitui um triunfo do neo-realismo. O quadro revela a assimilação da lição do brasileiro Cândido Portinari, na matéria áspera, na acentuação anatómica das mãos e dos pés.
   Outro marco importante foi a experiência colectiva feita por Pomar, Cipriano Dourado, Rogério Ribeiro, António Alfredo, Lima de Freitas e o escritor Alves Redol. Em 1953 partiram em demanda da gente dos arrozais do Ribatejo, num inquérito que procurou registar histórias, tarefas e pessoas, reveladoras da vida camponesa. Esta experiência ficou conhecida por «Ciclo do Arroz» (1953).
   Seguiu-se o levantamento dos heróis populares, notável no quadro intitulado Maria da Fonte (Pomar, 1957), nome de uma mulher nortenha que, no século XIX, chefiou uma rebelião popular. Neste quadro, de tons escuros, alguns admiradores de Pomar viram a conjugação e a actualização de valores picturais de Columbano e Goya.
   Depois, a pintura de Pomar passou a procurar sugerir o movimento com pinceladas rápidas, numa figuração fragmentária e descontínua. As cores, inicialmente abafadas, adquiriram grande vivacidade, acabando por alastrar-se em grandes áreas, matissianamente, já nos anos sessenta


Rui Mário Gonçalves, in A Arte Portuguesa do Século XX, Círculo de Leitores, Dezembro de 1998, pp. 69-70

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