sexta-feira, 18 de setembro de 2020

INSTAGRAM

Aderi ao Instagram por alturas de confinamento, para acompanhar o que a minha filha mais nova anda por lá a publicar com milhares de reacções. Não compreendo o Instagram, um álbum de fotografias a céu aberto depurado de acasos e de acidentes. É praticamente tudo encenado. Aparecem inúmeras mulheres em pose inclinada, geralmente decotadas, muito bem vestidas e penteadas e maquilhadas. Gosto de pensar que cheiram mal, só para as julgar reais. Não percebo a mania de tirarem selfies ao cu, mas não desgosto. Só não tenho paciência para as boquinhas em modo anal, nem para os gajos que fazem comentários do tipo "linda", "que sonho". Porra, onde param os grunhos do "comia-te toda"? A Internet está cheia de burgessos, mas no Instagram só me aparece gente elegantérrima. Desconfio saber o que pensam aqueles rapazes, mas tal como a artificialidade das fotografias exige pose também a artificialidade do discurso pede comedimento. Vou ler umas cartas de amor da Ofélia, que, sendo ridículas, sempre o são menos do que este diário exibicionismo online.

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