sábado, 1 de maio de 2021

A BASE DO SUCESSO

 

«São, na esmagadora maioria, homens e ganham, em média, dez vezes mais do que os colaboradores das empresas. É este o retrato do típico presidente executivo (CEO) em Portugal, segundo um estudo da consultora Mercer, relativo ao ano de 2020. O mesmo que demonstrou que 85% dos que ocupam cargos de topo na administração e órgãos de fiscalização das empresas são homens e ganham, em média, mais 20% do que as mulheres nos mesmos cargos.» Notícia de Janeiro do ano corrente. A imagem ao lado reproduzida é do DN, data de 2017. Começa logo tudo mal nos nomes que atribuímos às coisas. Há 7 anos escrevi este desabafo: «importa repor a verdade: o dia do trabalhador devia passar a chamar-se dia do colaborador. É assim que as empresas tratam quem para elas trabalha, independentemente de ser trabalho ou colaboração o que “os colegas” têm para "oferecer". Do ponto de vista do patrão, está claro que é colaboração. Do ponto de vista do empregado, será o que ele desejar. Os empregados são sempre livres de pensar, pena que não sejam igualmente livres de actuar. O próprio "Código do Trabalho" devia passar a designar-se "Código do Colaborador". Vai trabalhar, vagabundo, canta Chico Buarque. Antes cantasse vai colaborar. É mais fino.» Os trabalhadores portugueses vivem sob ameaça do desemprego, o medo tolda-lhes a acção. Obedecem sem questionar, desinteressam-se dos seus direitos por se julgarem desprotegidos. Estão convencidos de que as leis existem para enfeitar. Tentar congregar forças no interior de uma empresa, contra situações de assédio moral, de intimidação, de ameaça descarada, para não falar da pressão constante com objectivos inatingíveis, habilmente desenhados para calar pacóvios, muitas vezes com prémios indignos e até insultuosos, é missão hercúlea. E depois essa prática instituída de que a vida do trabalhador só existe na medida em que o patrão ponha e disponha dela. É missão hercúlea lutar contra isto. As queixas a superiores hierárquicos caem por regra em saco-roto, porque o superior hierárquico também tem um superior hierárquico que, por sua vez, tem um superior-hierárquico e assim a mensagem vai-se perdendo pelo caminho. Em muitas ocasiões senti-me sozinho e isolado a apontar o dedo, mas não me arrependo de uma única vez em que isso aconteceu. No país do faz de conta, a regra é: não estou para me chatear. E então diz-se sim senhor, obedece-se ou, à moda do "chico-esperto", inventa-se maneira de fingir que se obedece. Um desgaste. Podia contar-vos inúmeras histórias, umas mais caricatas do que outras, do que foi a experiência de trabalhar 11 anos para uma empresa que factura milhões e paga miseravelmente aos seus... colaboradores. Prefiro lembrar-me do que foi a minha progressão salarial, como gerente de livraria, ao longo de 11 anos:

31/12/2008: 430€
30/01/2009: 450€
29/01/2010: 475€
29/11/2010: 480€
31/01/2011: 485€
29/07/2011: 692,41€
29/04/2019: =

Infelizmente, não tenho acesso aos vencimentos auferidos pelos CEO, administradores e directores da mesma empresa. Deve ser mais ou menos a mesma coisa.

1 comentário:

Transhümantes disse...

Nesse gráfico percebe-se perfeitamente como o regime de exploração laboral caricatura o regime político "democrático"...que tanta gente vangloria. A mim já me custa mastigar essa palavra "democracia"...quando associada a estes regime vem sempre com muito caroço. E depois tenho que está sempre a cuspir ou a pedir licença para o fazer.

Vou-me deixar disto.

Abraço e saúde pública!