Indirectamente, o poema em prosa é fruto da revolução de
89 e das transformações sociais que se lhe seguiram. Acresce que o recurso ao
alexandrino para os escritos a serem lidos perante a corte levou cientistas,
pensadores e até juristas, a redigirem epístolas em verso para tratarem de
qualquer assunto. No século XIX, a versificação já não é exclusivamente
mobilizada pela poesia; tornara-se, na verdade, um exercício de estilo, um
malabarismo literário, enquanto os escritos em prosa se foram desenvolvendo —
só a universidade mantém o uso da dissertação latina para titularizar os seus
«doutores», seja qual for a disciplina —, do romance à enciclopédia, pelo que o
próprio estatuto da prosa é objecto de reconsideração.
Saguenail, no prefácio a São horas da embriaguez; para
não serdes escravos martirizados do tempo, embriagai-vos ininterruptamente, de
vinho, de poesia ou de virtude, conforme vos aprouver. — Antologia de Poemas em
Prosa Franceses, selecção e tradução de Regina Guimarães, prefácio e notas
biográficas de Saguenail, FLOP, Outubro de 2020.
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