A elegância enfada-me, a
deselegância incomoda-me. Prefiro ser incomodado a ser enfadado. Gosto de gente
trambolha, esgrouviada, gente que não carregue sobre os ombros uma cabeça
passada a ferro, capaz de soltar gargalhadas sem temer mostrar os dentes. Pessoas
demasiado elegantes inspiram-me desconfiança, não consigo conceber que alguém
possa perder mais tempo a olhar-se ao espelho do que a observar o mundo à sua
volta. As pessoas elegantes não são necessariamente delicadas, a graça que
podiam ter fica submersa na contenção calculada dos gestos. Exibem fragilidades
dissimuladoras da maldade que qualquer ser humano tem dentro de si. O maior
perigo que revelam é a negação dessa maldade, torna-as reféns de um mundo de
aparências altamente ameaçador. Pessoas airosas e simples como flores selvagens
são difíceis de encontrar, pessoas com gestos inspiradores de uma naturalidade
persuasiva. Por regra, o tipo elegante nada tem de natural. É de uma beleza
forçada e fictícia, artificial como jardins públicos em que as plantas fossem
todas de plástico ou de borracha. No tipo desalinhado e desarrumada encontro,
pelo menos, um vislumbre de selvajaria. Como tudo o que é selvagem, atrai-me
pela energia mesmo quando me coloca sob cautela. Nenhuma princesa seria capaz
de me seduzir como me seduz o filho das selvas. Não gosto de cristais, prefiro
barro.
Juraan vink, dos “Diários”.
(tradução minha)
(tradução minha)
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