segunda-feira, 4 de junho de 2018

VOLUNTÁRIOS INVOLUNTÁRIOS

Em Botafogo existe, como vocês todos sabem, a Rua Voluntários da Pátria. Seu nome provém de uma iniciativa empreendida pelo Império em sua guerra genocida (e etnocida) contra o Paraguai - o Brasil sempre foi bom nisso de matar índios, do lado de cá ou de lá de suas fronteiras. Carente de tropas para enfrentar o exército guarani, o Governo imperial criou corpos militares de voluntários, «apelando para os sentimentos do povo brasileiro», como escreve o verbete da Wikipedia sobre a iniciativa. Pedro II apresentou-se em Uruguaiana como «o primeiro voluntário da pátria». Não demorou muito e o patriotismo dos voluntários da pátria arrefeceu; logo o Governo central passou a exigir dos presidentes das províncias que recrutassem cotas de «voluntários». A solução para esta lamentável «falta de patriotismo» dos brancos brasileiros foi, como se sabe, mandar milhares de escravos negros como voluntários. Foram eles que mataram e morreram na Guerra do Paraguai. Obrigados, escusado dizer. Voluntários involuntários.

Eduardo Viveiros de Castro, in Os Involuntários da Pátria, revista Flauta de Luz, n.º 5, Abril de 2018, p. 19.

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