sábado, 30 de julho de 2022

PRESIDENTE DA JUNTA

 
Eu é que sou o presidente da junta. Eu é que sou poeta. Eu é que sou editor independente. Eu é que sou crítico literário. Eu é que sou jornalista cultural. Eu é que sou de esquerda. Eu é que sou de direita. Eu é que sou liberal. Eu é que sou libertário. Eu é que sou anarquista. Eu é que sou isto. Eu é que sou aquilo. Eu é que sou aqueloutro. Eu é que sou eu. Eu é que sou o outro. Eu é que sou todos os demais além de mim. Eu no centro de mim mesmo. Eu mundo. Eu tudo. Os outros são irrelevantes. Excepto quando eu diga que são relevantes. Porque eu é que sei. Eu o iluminado. Eu o revoltado. Eu o indignado. Eu o zangado. Excepto comigo mesmo. Porque afinal eu é que sou o presidente da junta. Como é que dizia o outro? Qual outro? O Confúcio? Talvez o Senhor Keuner. O tolo fala, o sábio cala. Era mais ou menos isto, não era? Seria? Eu é que sou o sábio. Não serás antes o tolo? Eu, os outros, os outros, eu, entre mim e o mundo um fosso, um abismo, porque eu aquém do mundo, eu além do mundo, eu de um lado da barricada e os outros do outro, eu contra todos, todos contra mim, nestas guerras de alecrim e de manjericoninhas. Eu é que sou o presidente da junta.

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