segunda-feira, 15 de agosto de 2022

OS PERSAS

 

Omar Khayyam (1048-1131), poeta persa, nascido em Neshabur, actual Irão. Fernando Pessoa gostava dele, tanto que o traduziu e dedicou-lhe algumas páginas. Eduardo Galeano chamou-lhe “a voz do vinho”, referindo-se aos «poemas clandestinos que se espalhavam de boca em boca, por toda a Pérsia e mais além». Além de poeta, Khayyam foi matemático, astrónomo, filósofo. Roubo as palavras a Galeano: «Khayyam preferia a taberna à mesquita. Não receava o poder terreno nem as ameaças celestiais, e sentia piedade de Deus, que nunca poderia embebedar-se. A palavra suprema não estava escrita no Corão, mas na borda de um copo de vinho; e não se lia com os olhos, mas com a boca.» Que lhe terão feito lá na terra dos khomeinis? O nome Hadi Matar, do rapaz que esfaqueou Salman Rushdie, ficou a ecoar dentro da minha cabeça a noite toda. Se leu alguma coisa na vida, não leu os livros certos e deu ouvidos às pessoas erradas. Melhor teria sido dedicar-se às rubaiyat de Omar Khayyam, que aqui cito em tradução de Fernando Couto para a Moraes Editores:

Os sábios não te ensinarão nada,
mas a carícia dos longos cílios de uma mulher revelar-te-á a felicidade.
Não esqueças que os teus dias são contados
e que, bem depressa, tu serás presa da terra.
Compra vinho, afasta-te para um canto e deixa-o consolar-te.

Se não for pedir muito, podia também ouvir os alaúdes de Santana em Incident at Neshabur enquanto tragasse o sangue de Deus directamente da ânfora.

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