“Nighthawks at the Diner”, Tom Waits.
Se tudo correr bem, hei-de morrer um dia
destes. A vida eterna não é hipótese que me seduza. Infelizmente, a confiar no
método indutivo, irei desta para melhor sem ter assistido a um concerto de Tom
Waits. E isso sim, é hipótese que me desgosta. Creio ter sido por 1992 que
comecei a ouvi-lo, “Bone Machine” rodava numa cassete. Só depois terei
adquirido “Nighthawks at the Diner” (1975), surpreendente gravação ao vivo de um
excepcional contador de histórias. A música de Tom Waits é devedora do blues,
mas também do cabaret, do vaudeville, das canções de Kurt Weill para o teatro
de Brecht, do circo. A voz cavernosa foi-se formando ao longo dos anos,
adquirindo em alguns momentos modalidades guturais que imprimem às canções
ambientes monstruosos, por vezes soturnos, românticos nesse sentido assombroso
do belo horrível. Lembro-me de ouvir “The Black Rider” (1993) vezes em conta,
estrondoso conjunto de composições para uma peça de Robert Wilson com a
participação de William S. Burroughs. Esta teatralidade, por assim dizer, marca
presença muito cedo na música de Tom Waits, transportando-nos para cenários
nocturnos onde confluem todos os “vencidos da vida”, se bem que, aqui e acolá,
com pontos luminosos ao fundo dos túneis onde a solidão adormece embriagada. Só
mesmo Tom Waits poderia escrever uma canção de Natal aceitável. É o caso desse “Christmas
Card From a Hooker in Minneapolis”, num álbum, “Blue Valentine” (1978), todo
ele natalício. "Heartattack and Vine" (1980), já agora, vai na mesma linha. Enfim, os Pogues também não se ficaram atrás com “Fairytale of
New York”. Ainda há natais suportáveis. Diz que amanhã cumprirá 75. Ah,
valente!
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