Omar Khayyam (1048-1131), poeta persa, nascido em
Neshabur, actual Irão. Fernando Pessoa gostava dele, tanto que o traduziu e
dedicou-lhe algumas páginas. Eduardo Galeano chamou-lhe “a voz do vinho”,
referindo-se aos «poemas clandestinos que se espalhavam de boca em boca, por
toda a Pérsia e mais além». Além de poeta, Khayyam foi matemático, astrónomo,
filósofo. Roubo as palavras a Galeano: «Khayyam preferia a taberna à mesquita.
Não receava o poder terreno nem as ameaças celestiais, e sentia piedade de
Deus, que nunca poderia embebedar-se. A palavra suprema não estava escrita no
Corão, mas na borda de um copo de vinho; e não se lia com os olhos, mas com a
boca.» Que lhe terão feito lá na terra dos khomeinis? O nome Hadi Matar, do
rapaz que esfaqueou Salman Rushdie, ficou a ecoar dentro da minha cabeça a
noite toda. Se leu alguma coisa na vida, não leu os livros certos e deu ouvidos
às pessoas erradas. Melhor teria sido dedicar-se às rubaiyat de Omar Khayyam,
que aqui cito em tradução de Fernando Couto para a Moraes Editores:
Os sábios não te ensinarão nada,
mas a carícia dos longos cílios de uma mulher
revelar-te-á a felicidade.
Não esqueças que os teus dias são contados
e que, bem depressa, tu serás presa da terra.
Compra vinho, afasta-te para um canto e deixa-o
consolar-te.
Se não for pedir muito, podia também ouvir os alaúdes de
Santana em Incident at Neshabur enquanto tragasse o sangue de Deus directamente
da ânfora.
1 comentário:
Que postagem maravilhosa. Obrigado
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