quarta-feira, 22 de abril de 2015

VENTILAN


Os Ventilan não nasceram de uma ideia, nasceram de uma vontade. Não são, por isso, um projecto. São puro acto. Os Ventilan só querem ter um fã. Seguem à risca a máxima segundo a qual a poesia é cada vez mais claramente a antimatéria da sociedade de consumo. Cada acto é um ensaio e cada ensaio é, helás!, um acto. Raramente o acto acontece mais do que uma vez por ano. Os (in)suspeitos implicados são: Nuno Moura na leitura, Pedro Serpa no sopro, Henrique Fialho na corda, Luís Fonseca no loop. Por cima do ruído é costume escutarem-se versos, mas nada impede que por cima dos versos se venha a escutar ruído. Tudo porque a poesia é, também e talvez mormente, para gingar, pronunciar, respirar, dançar, menear, cantarolar, representar, exorcizar, clamar, vociferar, gritar, goelar, tragar, manjar, respirar. Atenção: toda a actuação ocorrerá em desacordo ortográfico.

Historial:
2001: Almeirim, Taberna Toino da Cunha
2002: Almeirim (acção de rua)
2003/Junho: Rio Maior, Bar Matrix (1.ª parte dos The Great Lesbian Show)
2003/Julho: Azambuja, Festival Tejo
2004: Lisboa, Associação Abril em Maio
2005/Janeiro: Lisboa, Galeria Zé dos Bois (com Adília Lopes)
2005/Abril: Porto, FNAC de Santa Catarina (especial & etc.)
2005/Novembro: Lisboa, Museu de História Natural (Abril em Maio – Os exageros do PREC)
2006: participação no CD «Não resistir Só e Não Só resistir» (produzido pelo M.A.T.A. - movimento anti "tradição académica")
2006: Fnac de Coimbra
2007/Julho: CD in Big Ode#2
2007/Julho: Fábrica de Braço de Prata, lançamento do n.º 2 da revista Big Ode
2009/Junho: Há arraial na Mouraria!
2009/Julho: Okupação do Coreto do Jardim da Estrela
2009/Dezembro: Livraria Trama
2013/Fevereiro: Livraria Sá da Costa
2015/Abril: S. I. Guilherme Cossoul
2018/Dezembro: Teatro da Rainha

Poesia Antiasmática

Nuno Moura foi jogador de pólo aquático e escreveu os versos de Nova Asmática Portuguesa. É ele quem agarra no papel e no microfone gritando em tom de comício: «Portugal é um país de poetas ricos». O público sorri: «A poesia dá dinheiro a Portugal». Está dado o mote. Henrique Fialho acorda a guitarra eléctrica com a sensatez de um professor de Filosofia de 30 anos. E Nuno Moura continua: «Teve mais de noventa mil pessoas delírias no estádio das Antas para o lançamento do seu último livro de poesia». O público ri. Pedro Serpa, 26 anos, sopra no saxofone cerimonioso, como se estivesse a fechar a caixa da livraria onde trabalha na "vida real". Os três membros dos Ventilan escolheram nome de medicamento contra a falta de ar e só se encontram nos concertos, um a dois por ano desde 2001. Partilham a crença de que a poesia tem propriedades antiasmáticas. E o gosto pelo risco: os seus espectáculos são uma espécie de ensaios ao vivo que costumam correr bem, embora numa noite mítica em Almeirim já tenham sido interrompidos pela Polícia de Segurança Pública. Gosto da adrenalina de estar ali a actuar e ter de me safar, explica Nuno. Têm um slogan - "Queremos um fã" - que define sobretudo o que não querem: estrelato. Revela também a profissão do homem da voz: Nuno Moura, criativo de publicidade e poeta. Além de ex-professor de natação no Benfica e ex-jogador de pólo aquático : ainda fez a época de 2001/2002 na segunda divisão, com os Pinguins. O responsável pelas palavras dos Ventilan é um admirador dos catalães Accidents Polipoètics e faz parte de um duo de "spoken word" com Paulo Condessa: o COPO. Aos 30 anos é com o fôlego e a violência do pólo aquático que Nuno lê um dos textos habituais nas actuações dos Ventilan, escrito pelo poeta brasileiro Jayme Kopke: «É hora, companheiros. Até aqui estivemos ensaiando. Foi tudo muito bom e valeu. Mas agora começa o verdadeiro espectáculo. (...) Vamos alçar os pés, brandir os braços e girar. E descer a porrada.» As palavras de Kopke gritadas e sussurradas ao microfone dos Ventilan evoluem num apelo irónico à violência que deixa qualquer um mais acordado. E talvez com menos falta de ar.
João Pacheco, in Y, Público, 11 de Março de 2005.

Nota: à época, era mais ou menos assim. Agora não sabemos como será. Pela parte que me toca, levo Jimi Hendrix para ouvir durante a viagem. 

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