quarta-feira, 23 de novembro de 2022

25 de Abril/25 de Novembro

 
Sempre haverá quem pretenda confundir a bota com a perdigota, revendo a História para adaptá-la a concepções ideológicas pessoais. No 25 de Abril comemora-se o fim de 48 anos de ditadura. O que se comemora no 25 de Novembro? Comemora-se o que não chegou a ser. Os adeptos desta confusão querem fazer acreditar que 48 anos de perseguições, tortura, censura, nepotismo, têm o mesmo significado que 19 meses de transição democrática. A chamada Guerra Colonial foi entre 1961 e 1974, não foi entre Abril de 1974 e 25 de Novembro de 1975. Quem confunde as duas datas acha que sim, parte de um princípio estupidificante com o único resultado de desagravar a situação do país anterior a 25 de Abril de 1974. Este tipo de confusões, frequentes nestes tempos de desmemória, são recorrentes. Passa-se o mesmo com o holocausto, o nazismo, o fascismo, palavras que a pouco e pouco vão sendo esvaziadas do verdadeiro significado por servirem de qualificativos para tudo e mais alguma coisa. Não, o 25 de Novembro não tem o mesmo significado do 25 de Abril. A democracia foi conquistada com o 25 de Abril. Depois houve o que sempre há, discussão, debate, crítica, espasmos, rebeliões, política. Mas como hoje em dia o que conta é o espectáculo, a História já não tem valor e a hipocrisia tudo disfarça e o dinheiro tudo move, pois que se pretende colocar de mãos dadas o fim de 48 anos de ditadura com um momento de transição política que durou 19 meses e nos deu a abolição da censura e da polícia política, a extinção da Mocidade Portuguesa e da Legião Portuguesa, a libertação de presos políticos, o regresso dos exilados, a formação de partidos e de sindicatos, o fim da guerra colonial, a independência das colónias, a nacionalização da banca e seguradoras e de algumas grandes empresas, a reforma agrária, o salário mínimo, subsídios de férias e de desemprego, licença de parto, o direito à greve e aos comícios… Mesmo recusando a perspectiva de que o 25 de Novembro correspondeu a uma devolução do país aos seus oligarcas, aos eternos donos disto tudo (parabéns!), mesmo recusando essa perspectiva, parece-me absolutamente ridículo, estúpido e perigoso, colocar num mesmo patamar o 25 de Abril e o 25 de Novembro. Mas não me admiro que assim seja num país governado por Cavacos e Sócrates e Marcelos e demais amigos da Igreja pedófila, da banca corrupta, das oligarquias internacionais e dos Catares assassinos.

1 comentário:

Mário Sérgio disse...

«O Saramago é o grande vencedor do 25 de Novembro», Luiz Pacheco à conversa com Baptista-Bastos