Quitéria também sonha com um Trump em papas.
antologia do esquecimento
sábado, 3 de maio de 2025
DOMESTICADORA DE GIRASSÓIS
Os 14 contos de Domesticadora de Girassóis, mais
extensos do que é habitual neste autor, exploram universos fantasmagóricos com
personagens que tentam equilibrar-se entre o real e o imaginário. O que há de
anómalo e de paradoxal nas situações recriadas encontra na multiplicidade
formal, que vai da ficção narrativa ao poético, da crónica ao drama, do relato
autobiográfico à prosa ensaística e ao diário, vias de expressão para seres
cuja existência está em permanente conflito com um mundo onde a separação entre
caos e ordem perdeu qualquer sentido.
236 páginas
Maio de 2024
Venda directa – pedidos para: companhiadasilhas.lda@gmail.com
Também disponível
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na Snob: https://www.livrariasnob.pt/product/domesticadora-de-girassois ;
na Wook: https://www.wook.pt/livro/domesticadora-de-girassois-henrique-manuel-bento-fialho/30047346
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na Bertrand: https://www.bertrand.pt/livro/domesticadora-de-girassois-henrique-manuel-bento-fialho/30047346
;
na Livraria Almedina: https://www.almedina.net/domesticadora-de-girass-is-1717207529.html
...
sexta-feira, 2 de maio de 2025
ESCALA
Podem organizar um debate do Miguel Morgado com o próprio
Miguel Morgado seguido de notas pelo Miguel Morgado? É só uma ideia. Aposto que
rebentaria a escala.
quinta-feira, 1 de maio de 2025
quarta-feira, 30 de abril de 2025
UM POEMA DE ONO NO KOMACHI
Que triste é pensar
que eu acabarei apenas
como essa neblina
esverdeada e longínqua
a flutuar pelos campos.
In O Japão no Feminino I. Tanka - Poesia dos Séculos IX a XI, organização e versão portuguesa de Luísa Freire, livros nanook, n.º 1, Companhia das Ilhas, Março de 2025, p. 29.
terça-feira, 29 de abril de 2025
APAGÃO TOTAL
Desengane-se quem julga que a luz voltou, as trevas
vieram para ficar:
"Israel parece determinado a destruir a estrutura criada para garantir o
cumprimento do direito internacional de uma forma que terá consequências
profundas que se repercutirão muito para além da Palestina, segundo o Tribunal
Internacional de Justiça."
No The Guardian.
DE MÁ CONDIÇÃO
Calhou assim, não foi propositado. Chegou-nos ontem, Dia
Mundial da Árvore e da Poesia, este segundo volume da Colecção Insónia. O
primeiro foi "A Dança das Feridas". Esperámos 13 anos por ele, eu, a Maria
João Lopes Fernandes e o Pedro Serpa.
Tal como aconteceu no passado, também deste volume não
farei apresentações públicas nem distribuição pelas livrarias. Trata-se de uma
edição única, minha e da Maria João - autora das pinturas na capa e no
interior, originais concebidos para este efeito -, que em nenhuma circunstância
deverá ser objecto de qualquer reedição.
Quem tiver interesse num exemplar, poderá contactar-nos,
a mim ou à Maria João, por Messenger (Facebook, Instagram) ou email. O meu
email é fialho.henrique@gmail.com. O valor de capa, com portes incluídos, é 10€.
São 78 poemas e 9 reproduções de pinturas da Maria João Lopes Fernandes. O
design e a composição é do Pedro Serpa.
Em memória de minha mãe, Clarisse Maria Tavares Bento.
Saúde.
segunda-feira, 28 de abril de 2025
APAGÃO
Ataque russo (que não existiu), declarações de Ursula von
der Leyen à CNN dando conta de ciberataque (que foram inventadas), incêndio em
França (com 4 anos), uma horda de especialistas sem fim com teses e teorias
para todos os gostos. O espectáculo da informação é isto, este fluxo de
sentenças que para nada nem a ninguém serve, esta cloaca máxima de opiniões
alimentada por imbecis. Se com um apagão de nove horas é isto, imaginem quando
sofrermos na pele o que sofrem as pessoas em Gaza, na Ucrânia, no Iémen, no
Sudão, na Síria, etc, etc, etc... Porque vamos sofrer, mais tarde ou mais cedo
vamos mesmo sofrer. E é óbvio que não estamos minimamente preparados. Tudo tão
ridículo aqui à nossa volta que é impossível não sentir vergonha.
domingo, 27 de abril de 2025
VERDADE & MENTIRA
«Quase um século e meio decorreu desde a morte de Nietzsche, ou, pelo menos, desde a morte do seu pensamento intransigente. A ciência avançou a passos largos, a técnica a passos monstruosos. Eis que, no momento presente de declínio da linguagem e do pensamento, de desabamento da ética e perda da crítica, da tentativa de redução da linguagem a uma única língua em estado elementar e titubeante, uma epistemologia da manipulação premeditadamente arquitectada se ergue e exerce o seu poder destrutivo e o multiplica e propaga através dos continentes.
Neste impasse, as máquinas assumem as funções que os homens declinam e nelas delegam, incluindo a função suprema, a de pensar o mundo e a sua presença nele. Ou seja: renúncia a retomar o pensamento filosófico recebido, como imperativo, dos grandes séculos da Grécia antiga.
Novos avanços da técnica, que aproveitam o mimetismo humano sem limites e o hedonismo desenfreado que grassa, confundem e enfim apagam a fronteira entre verdade e mentira e instauram um paradigma encobridor, que é um paradigma de domínio: a 'vontade de poder', a famosa Wille zur Macht, exercida agora contra a procura da verdade. — Vontade de mentira como vontade negativa de poder!
Assim se proclama a figura grotesca da pós-verdade, manobrada e disseminada por meio de tecnologias subtis da falsificação (como a chamada 'inteligência artificIal', ou certo uso que dela se faz), apagando os critérios de distinção entre verdade e mentira, entre verídico e frauduloso, e encaminhando as sociedades do mundo presente rumo a estados inferiores da condição humana.
A procura de conhecimento seria, assim, como uma arquitectura de prodigiosas figuras de retórica que incutem nos humanos (exultantes, no seu hedonismo néscio, com o crescer da técnica) a sensação fictícia de um saber que se esquiva.
Na sua limpidez extrema, na sua inocência, a verdade última — a aletheia — encobre-se ao nosso olhar e ilude os nossos esforços, enquanto anima o jogo do mundo.
António Vieira, in Entre Verdade e Mentira a partir do ensaio de Nietzsche, prefácio a Acerca da Verdade e da Mentira no Sentido Extra-Moral, de Friedrich Nietzsche, tradução de Gilda Oswaldo Cruz, livros nanook, Companhia das Ilhas, Abril de 2025.
sexta-feira, 25 de abril de 2025
quinta-feira, 24 de abril de 2025
POEMAS DE TAKESHITA SHIZUNOJO
Sem mais procurar
o sol, eis um esplendoroso
girassol.
*
Cheirando a suor
aquele povo sem voz -
vou juntar-me a eles.
*
Longe da disputa
que travam os fazendeiros
o arroz cresceu.
*
Estrelas brilham no céu -
na terra, mulher curvada
ao saco de comida.
Takeshita Shizunojo (1887-1951), in O Japão no Feminino II. Haiku - Poesia dos Séculos XVII a XX, organização e versão portuguesa de Luísa Freire, livros nanook, n.º 2, Companhia das Ilhas, Março de 2025.
quarta-feira, 23 de abril de 2025
ORESTES (fragmento)
(…)
Eu também tenho uma vida própria e devo vivê-la.
Vingança
não; —
que poderia valer à morte mais
uma
morte
e, para mais ainda, violenta? — que adiantaria à vida?
Os
anos passaram.
Já não sinto ódio; — terei esquecido? ter-me-ei
Cansado?
Não sei.
Percebo até em mim uma certa compaixão pela
assassina;
—
grandes abismos enfrentou;
um grande conhecimento dilatou os seus olhos na
obscuridade
e vê, — vê o inesgotável, o inalcançável e o
inalterável.
Vê-me.
(…)
Yannis Ritsos, in Orestes, versão de HMBF a partir da tradução
espanhola de Selma Ancira, Acantilado, Novembro de 2015, pp. 38-39.
terça-feira, 22 de abril de 2025
SUCESSÃO
Quitéria já sabe quem vai suceder ao Papa
Francisco, será um homem de saias com posições contra a interrupção voluntária
da gravidez e a eutanásia, dirá coisas muito inclusivas e bonitas, excluindo as
mulheres do sacerdócio, discriminando homossexuais e pedindo perdão pelos
crimes cometidos no passado varrendo para debaixo do tapete os que continuam a
ser cometidos no presente. Ouviram aqui primeiro.
segunda-feira, 21 de abril de 2025
PAPAS
Que me lembre, desde que nasci levei com o Paulo II, o Bento XVI e o Francisco. Do Paulo I não me lembro. Nestes 50 anos, a Igreja Católica Apostólica Romana continuou misógina e homofóbica. Nada mudou, a não ser a revelação de inúmeros crimes de pedofilia que foram sendo sucessivamente abafados, silenciados, varridos para baixo do tapete, a despeito dos mea culpa que Deus Nosso Senhor está sempre pronto para ouvir e perdoar. Mais do que a notícia da morte do Papa, interessa-me esta outra também muito recente: «Amnistia papal 'salva' militares que não denunciaram violação de mulher. O caso remonta a 2022 e envolve a partilha de um vídeo de uma violação cometida por um militar. Apesar dos colegas que assistiram ao vídeo não terem denunciado o crime, não foram punidos devido à amnistia aprovada com a vinda do Papa Francisco a Portugal, no âmbito da Jornada Mundial da Juventude.» Chorem pois muito estas perdas, ó carpideiras da hipocrisia universal.
domingo, 20 de abril de 2025
IMITAÇÕES
flor silenciosa
saber que escapa ao
homem tagarela
*
meias palavras
não resolvem problemas
adiam soluções
*
a planar alto
sob o lixo humano
uma gaivota
*
o canto da rola
no beiral da janela
pequeno-almoço
*
sem preocupações
na sombra dum salgueiro
futuro liberto
Juraan Vink
Versão de HMBF
sábado, 19 de abril de 2025
UM POEMA DE FILIPE HOMEM FONSECA
TEMO A DISTÂNCIA ENTRE ROTINA E ESQUECIMENTO,
aborrece-me a queda de catedrais e desprezo
a colisão das vontades. Quando as veias me cobriam
o corpo de percentagens e rendas em atraso,
confiei em profetas e subi aos telhados, contratei
quem duvidasse por mim, paguei com notas
fora de circulação. Lambi a palma das tuas mãos
para te ler o destino, para nos calcular o desvio.
Encontrei-nos fadados às filas intermináveis,
à sopa a escaldar, a marcarmos encontros
para antes de qualquer um de nós ter nascido.
Filipe Homem Fonseca, in Última refeição antes de mim, Companhia das Ilhas, Março de 2025, p. 49,
sexta-feira, 18 de abril de 2025
PASSADIÇOS
Entretanto o mundo encheu-se de revolucionários acomodados, indignados conformados com a inevitabilidade das derrotas, utópicos realistas que sonham acordados e dormem sobre os factos, gente que sim senhor, meu caro amigo, minha querida, como vai, pessoas que já nem sequer assobiam para o lado nem mijam contra o vento porque deixaram de assobiar e mal mijam, esses tipos que para diante é que é caminho, desde que por passadiços com regras de segurança asseguradas pela inspecção da higiene e segurança no trabalho, isto é, inspectores, burocratas, mas muito anarquistas ao volante do carro eléctrico ou a gasolina, tanto faz, desde que tenha gps, aventureiros das férias programadas e dos restaurantes estrelados em pesquisas no Google, homens e mulheres amigos de seus amigos, leitores de Cesariny incapazes de se voltarem para o gerente, apontarem o dedo ao leite e protestarem: está azedo, porque é feio, não fica bem, o que interessa, o que importa, ou seja, o que real e verdadeiramente nos abre portas e desbrava caminhos é sermos uns para os outros, não fazermos ondas, surfar terrenos planos, que a vida está uma canseira, o preço a pagar pelas coisas já não tem vida, paga-se o viver com a morte certa e, assim como assim, é ir andando de cabeça entre as orelhas, nem baixa nem erguida, e o calendário nutrido em contactos para o que der e vier.
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