quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

DE MÁ CONDIÇÃO

 


Calhou assim, não foi propositado. Chegou-nos ontem, Dia Mundial da Árvore e da Poesia, este segundo volume da Colecção Insónia. O primeiro foi "A Dança das Feridas". Esperámos 13 anos por ele, eu, a Maria João Lopes Fernandes e o Pedro Serpa.
 
Tal como aconteceu no passado, também deste volume não farei apresentações públicas nem distribuição pelas livrarias. Trata-se de uma edição única, minha e da Maria João - autora das pinturas na capa e no interior, originais concebidos para este efeito -, que em nenhuma circunstância deverá ser objecto de qualquer reedição.
 
Quem tiver interesse num exemplar, poderá contactar-nos, a mim ou à Maria João, por Messenger (Facebook, Instagram) ou email. O meu email é fialho.henrique@gmail.com. O valor de capa, com portes incluídos, é 10€. São 78 poemas e 9 reproduções de pinturas da Maria João Lopes Fernandes. O design e a composição é do Pedro Serpa.
 
Em memória de minha mãe, Clarisse Maria Tavares Bento.
 
Saúde.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

ANTICOMUNISTA

 

"Sou anticomunista", diz o homem que gama malas nos aeroportos, vende o conteúdo das malas na Vinted, envia a roupa roubada a expensas do correio parlamentar, guarda as malas no seu gabinete da Assembleia da República, tem um fetiche com roupas de menores...

Se este homem é anticomunista, Deus está do lado dos comunistas.

domingo, 2 de fevereiro de 2025

EDUCAÇÃO

 

Chamem-me o que quiserem, mas continuo a dizer que este é, provavelmente, o maior flagelo deste país, na raiz de todos os outros que nos afligem:

"Entre os 2529 professores que responderam a um inquérito da Missão Escola Pública, 59% admitem que já se sentiram vítimas de bullying no ambiente escolar, o que tem "um impacto significativo na saúde emocional dos docentes, afectando a sua motivação, auto-estima e capacidade de continuar a exercer a profissão". São sobretudo agressões verbais (63,3%) e ameaças (47%), embora 9,5% dos professores afirmem já ter sido vítimas de agressões físicas. E se estes actos são cometidos maioritariamente pelos alunos, mais de metade destas queixas (53,5%) têm, no entanto, origem em actos praticados pelos próprios pais e encarregados de educação."

A solução para isto é só uma, devolver à docência a dignidade que lhe foi usurpada. Revalorizando a carreira desde a formação até à reforma.

sábado, 1 de fevereiro de 2025

"DOMESTICADORA DE GIRASSÓIS", POR AGRIPINA CARRIÇO VIEIRA

 

No mais recente número da revista COLÓQUIO/Letras, o 218 (Janeiro/Abril de 2025), Agripina Carriço Vieira escreve sobre “Domesticadora de Girassóis” (Companhia das Ilhas, 2024). Deixo o primeiro parágrafo de um texto bem mais longo que revela uma leitura atenta e perspicaz:

«São múltiplas as sensações que nos visitam aquando da leitura de “Domesticadora de Girassóis”, o último livro de Henrique Manuel Bento Fialho, entremeando-se a inquietação, o desassossego e uma cúmplice envolvência. Desde o primeiro momento, no contacto com o aparelho paratextual, o leitor é interpelado por um livro que o desafia. Antes de mais porque se esquiva a qualquer classificação de género, deixando a quem o lê a possibilidade da livre descoberta de um conjunto de catorze textos, que se apresentam como se uma colectânea de contos fossem, mas a que dificilmente podemos atribuir essa designação. São de dimensão muito variável (ao lado de narrativas de quatro páginas, outras há mais extensas, a maior das quais com cinquenta e nove páginas) e de género indefinido, que oscilam entre os registos do conto, do ensaio, do guião, do diário ou da autobiografia, sem nunca se submeterem às convenções de cada um dos diferentes géneros. O fundamento deste movimento subversivo dos códigos literários é-nos dado pela voz que se faz ouvir no último e mais longo texto do livro, intitulado «Sobre o Autor». Aliando as dimensões autobiográfica (do ponto de vista do conteúdo) e diarística (em termos de organização), o leitor é surpreendido por entradas numeradas, que apresentam 51 marcações temporais, uma por cada ano de vida (a que, com maior propriedade, devemos designar por anuário), acompanhadas em ocasiões pontuais por siglas, que intuímos remeterem para locais. É na entrada do ano de 1999 que a voz autoral confidencia: «Gosto de textos que desrespeitem o estilo, rasurem a identidade, nada me agrada mais num livro do que não conseguir classificá-lo quanto ao género e forma» (205). São o gosto e a predilecção pela subversão das normas, tão desassombradamente enunciados, que moldam, para deleite dos leitores, este seu “Domesticadora de Girassóis”.»

DOMESTICADORA DE GIRASSÓIS

 


Os 14 contos de Domesticadora de Girassóis, mais extensos do que é habitual neste autor, exploram universos fantasmagóricos com personagens que tentam equilibrar-se entre o real e o imaginário. O que há de anómalo e de paradoxal nas situações recriadas encontra na multiplicidade formal, que vai da ficção narrativa ao poético, da crónica ao drama, do relato autobiográfico à prosa ensaística e ao diário, vias de expressão para seres cuja existência está em permanente conflito com um mundo onde a separação entre caos e ordem perdeu qualquer sentido.

236 páginas
Maio de 2024
 

Venda directa – pedidos para: companhiadasilhas.lda@gmail.com
 
Também disponível 

na Snob: https://www.livrariasnob.pt/product/domesticadora-de-girassois ;





sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

MARIANNE FAITHFULL (1946-2025)

 


 
"Broken English" ( 1979) fez-me companhia em diversas ocasiões. Tinha uma voz característica de quem não dá descanso à vida. Já não tem.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

50 X 25

 


“Fruit Tree”: Nick Drake
 
A voz mais doce de Inglaterra partiu cedo, com apenas 26 anos de idade. Nasci cinco dias antes de ele haver partido, pelo que talvez exista aqui uma qualquer conjugação astral a ligar-nos. Quando a ansiedade me toma conta do corpo e da cabeça, é a ele e a Chet Baker que mais recorro. Drake legou-nos três álbuns maravilhosos, mais uns trocos: “Five Leaves Left” (1969), “Bryter Layter” (1971) e “Pink Moon” (1972). No último, isolou-se por completo agarrando-se à guitarra e ao piano. Nos outros dois é acompanhado por uma banda. Diz-se que sofria de depressão, algo que as letras das canções amiudadamente induzem: «Time has told me / You’re a rare rare find / A troubled cure / For a troubled mind». Todos os álbuns são de um intimismo cativante, com arranjos de cordas envolventes nos primeiros e colaborações relevantes: Richard Thompson, dos Fairport Convention, John Cale, dos The Velvet Underground, Mike Kowalski, dos Beach Boys… No entanto, Nick Drake nunca conheceu o sucesso. É um daqueles casos em que a morte ajuda ao reconhecimento. Há muitos assim.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

50 X 24

 


 
“Experimental Jet Set, Trash and No Star”: Sonic Youth
 
Por falar em Sonic Youth, parece já ter sido há um século que inúmeras bandas de rock português queriam imitá-los. Nas Caldas da Rainha, em particular, havia um leque variado de t-shirts dos Sonic Youth a darem conta do culto. Apesar de começarem a editar no início da década de 1980, foi na década seguinte, empurrados pela onda grunge, que granjearam popularidade considerável com o álbum “Dirty” (1992). Com produção de Butch Vig, o mesmo do megassucesso “Nevermind” (1991), dos Nirvana, “Dirty” mostrava, paradoxalmente e sem prejuízo da característica noise, uns Sonic Youth mais clean do que era hábito até então. O ruído enquanto experiência musical, sob vozes frágeis e ritmos lentos, repetitivos, pouco tinha que ver com as explosões enérgicas do grunge. Os Sonic Youth foram sempre mais artísticos e inventivos, bem mais criativos do que o punk permitia com as suas canções de protesto restringidas a três acordes. “Experimental Jet Set, Trash and No Star” (1994) foi a resposta natural ao sucesso alcançado com “Dirty”, ou seja, um álbum repleto de experiências sem necessidade de prestar provas a ninguém, num diálogo intimista entre o ex-casal Thurston Moore e Kim Gordon. Politicamente bartlebyano, se assim podemos dizê-lo, aborda temas tais como as questões de género, a auto-obsessão, a ambição desmesurada nas sociedades de consumo, a pressão da fama, etc. É, talvez, o melhor álbum da banda, a par de “Sister” (1987), ao que parece inspirado na obra literária de Philip K. Dick.

terça-feira, 28 de janeiro de 2025

O QUE SE PASSA?

 


O que espanta é terem sido apenas 100. Mas juntem isto ao Pegasus, aos pagers com explosivos, às fábricas de AI, ao pinkwashing e outras subtilezas e têm o ramalhete composto.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

PROGRESSO

 
"Porto Covo: um mar de betão está a submergir a aldeia piscatória. A construção de apartamentos turísticos é incessante. A aldeia impreparada para a invasão no Verão, já depende da água dos auto-tanques. Mas por todo o lado surgem piscinas."

Fui assistindo a esta transformação ao longo dos últimos 30 anos. Tanto Porto Covo como Vila Nova de Milfontes tornaram-se irreconhecíveis, Odeceixe e a zona de Aljezur vão pelo mesmo caminho. Chamam a isto progresso.

A NOSSA CULTURA

 
"GNR recebeu em média 40 queixas por dia de violência doméstica no ano passado".
 
Mostrem ao Pedro Nuno. Temos de fazer respeitar os nossos princípios, costumes, valores, a nossa cultura.

domingo, 26 de janeiro de 2025

MUNDO NOVO

 
Vem no Público:

Uma notícia: "O Projecto Stargate, um consórcio entre a OpenAI, a Oracle (ambas americanas) e o banco japonês SoftBank, prevê investir 500 mil milhões de dólares ao longo de quatro anos. A Microsoft anunciou planos para investir 80 mil milhões num ano. Os feitos recentes da DeepSeek vieram lançar dúvidas sobre a necessidade de uma infra-estrutura desta dimensão. (...) A empresa foi fundada em Maio de 2023 por um empreendedor chinês chamado Liang Wenfeng, que enriqueceu graças a uma firma de investimentos que criou há dez anos e que usa inteligência artificial para fazer transacções nos mercados."

Mais outra notícia: "Administração Trump abre processo de rescisão em massa de funcionários públicos. Governo norte-americano envia email a dois milhões de funcionários a solicitar resposta a proposta até 6 de Fevereiro. Elon Musk defende redução de 75% do número de trabalhadores."

É o mundo novo.

OUVIR O TEXTO

Ouvir o texto, procurar o que ele diz sem o dizer, encontrar o que, sem ser enunciado, é sugerido, descobrir o gesto que o antecipa sem denunciá-lo, desconfiar sempre das soluções unívocas. E testar, repetir, comparar, escolher, errar, errar novamente, errar melhor.

sábado, 25 de janeiro de 2025

A NOSSA CULTURA

 
Esses valores que dizem ser os da nossa cultura não são propriamente da nossa cultura, são fruto de reflexões e de lutas seculares pela sua afirmação. Em essência, a nossa cultura é uma amálgama de culturas. Somos produto do cruzamento de várias culturas. Já na prática, a nossa cultura formou-se sob o jugo da Igreja Católica Apostólica Romana, uma instituição onde, por exemplo, a igualdade entre homens e mulheres não existe. E, no entanto, nós dizemos que a igualdade entre homens e mulheres é um valor da nossa cultura. Não o é de facto, a violência doméstica o demonstra, só o é enquanto horizonte ambicionável por uns e indesejável por outros. Queremos que seja e lutamos para que seja em conflito com os que o não querem. Outro problema será o modo de lidar com práticas culturais para nós inaceitáveis. Penso na mutilação genital, no casamento com menores, na segregação de homossexuais, etc. Como convencer alguém que vem viver para nosso lado de que essas práticas são inaceitáveis? Talvez este não seja um problema de "valores da nossa cultura", mas antes de "normas da nossa sociedade". Se entre as normas e os valores não houvesse conflito, as mulheres portuguesas ainda não teriam voto na matéria. Se depois do 25 de Abril passaram a ter, foi porque um valor maior se levantou na base de lutas que o transformaram em norma.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

ONDE ANDAM OS PAIS?

 

"Agressão de aluno com autismo na Moita volta a expor falta de pessoal nas escolas".

Ao ler este título, e sem pretender desmentir o que tem de factual, o meu lado conservador pergunta se não faltarão também pais nas casas. Onde andam os encarregados de educação dos agressores? Onde estão os pais e as mães desses que agrediram? Que educação têm transmitido aos seus filhos? São dúvidas que tenho.

VACUIDADE

 
Quitéria acha que Pedro Nuno Santos não disse nada de extraordinário, o que, de resto, já é habitual. Normalmente, não é pessoa que diga o que quer que seja de extraordinário.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

50 X 23

 


"Drumming": Steve Reich

Durante um breve período da minha vida senti enorme fascínio por essa música que dizem ser minimalista. Entre os compositores do género, Steve Reich ocupa um lugar especial. Não me recordo da data exacta em que adquiri “Drumming”, peça de 1970-1971 influenciada por uma viagem ao Gana. É quase certo que me tenha chegado nesses anos de estudo de filosofia da linguagem, quando a obra de Wittgenstein me incendiava as pestanas num sexto andar da Rua actriz Palmira Bastos. A tese de Reich é, precisamente, sobre o filósofo austríaco. Há o filme de Derek Jarman em 1993, pelo que deve ter sido por esses anos que me interessei por Reich, depois por Wim Mertens, Michael Nyman, Philip Glass… Nascido em 1936, ainda vivo, Steve Reich foi um inovador, um experimentalista. Deve-se a ele a ideia de loop com cassetes ou a transposição da técnica de colagem para a música. Os ritmos harmónicos e repetitivos são uma das suas marcas essenciais, curiosamente com forte influência em algumas bandas de rock surgidas a partir do final dos anos de 1970. Os Sonic Youth, por exemplo, adoptaram várias das suas técnicas, como a do feedback produzido por microfones pendulares sobre altifalantes. Pela inversa, também Steve Reich foi mantendo interesse pelas rotas da música contemporânea. Em 2012, compôs uma peça, “Radio Rewrite”, inspirada em duas canções dos Radiohead. É um extraordinário modelo de aproximação entre universos musicais distintos. Isto anda tudo ligado.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

A IDEIA # 104/105/106

 


A Ideia
revista de cultura libertária
II.ª série – ano XL – vol. XXVII
números 104/105/106 – Outono de 2024
Fundador e proprietário: João Freire
Director e editor: António Cândido Franco

Quatro pneus furados, pp. 165-167.