quarta-feira, 30 de novembro de 2022

A GALINHA DA VIZINHA

 
A galinha da vizinha é sempre pior que a minha -
cacareja o galo atravessado na garganta.
Mas com extremo profissionalismo, sublinhe-se.
E nisto as galinhas põem ovos dentro dos quais
chuvadas torrenciais, relâmpagos e trovões
alumiam equívocos. Só, entre os demais,
um caracol arrasta a cabana muro acima
com os cornos dirigidos ao céu da boca
que mastiga e mastiga e mastiga sem parar.
Então alguém assobia para o lado e diz:
"vendo cultura por atacado, compro verniz
para as unhas, permuto surrealismos ao preço
da uva mijona, sou dos sete costados, tantos
quantos os dias da semana, os mares e as cores
do arco-íris e os continentes e as notas musicais
e os princípios cavalísticos". Onde isto vai parar?
Aqui, agora. Escuto lá fora enxadas e vassouras,
desentopem escoamentos para que a porcaria
dê ao mar em que nos banharemos no Verão.
Montado no cavalo da cabala, o poeta segue
a trote o rastro assoado pelo caracol.

Sem comentários: