sexta-feira, 18 de novembro de 2022

DEZOITO

 
   18. «Eu vi as mentes mais brilhantes da minha geração destruídas pela loucura»… Na verdade, nenhum de nós estava destinado a ser brilhante. Mas alguns claudicaram antes de darem provas da sua mediocridade. Em acidentes de viação, regressando de festas a conduzirem sob o efeito de drogas psicadélicas enquanto no lugar do pendura a namorada embriagada lhes fazia um broche. Outros mataram-se porque não queriam de todo viver ou porque queriam viver mais do que o corpo autoriza. A droga abundava nas aldeias, provavelmente para que a juventude nelas encalhada pudesse sentir-se um pouco urbana. Os excessos, claro, levaram os mais desprevenidos. Houve deles internados em campos de regeneração ou reclusos, condenados por tráfico, uma sorte. Caminhei perto do abismo, mirando o fundo cheio de vertigens, até ser resgatado por um esgotamento. Mas isso foi mais tarde. Agora estou na casa de férias, deitado ao lado de uma miúda de Turquel que nunca mais vi, quando sou abruptamente acordado por alguém a bater à porta. Cambaleio e pergunto quem esmurra daquele modo animal o portal dos sonhos. A tua avó morreu, ouço dizer do lado de fora. Ou terá sido do lado de dentro? Lavo a cara, visto-me, despeço-me da moça ensonada e abandono o local do crime. Espera-me um velório. Pelo caminho, sinto nojo do meu próprio bafo alcoólico e do cheiro a fumo entranhado na pele. Engulo a náusea. Nesse mesmo ano vi Jorge Palma ao vivo, mais a dormir do que acordado. Tanto eu como ele.

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