DIAFANIA
Eu tenho um sósia que me põe maluco.
Querendo ser em tudo a mim igual.
Possui o mesmo sósia, então apanha
Com um grande susto ao ver-me, e mais ao tal.
Assim me assusto eu ao ver-nos ambos.
Ele nada me oferece. É um ladrão.
Não pára de sugar ecos em mim
E nada meu sobra em tal multidão.
De início, havia ainda um certo laço.
Vivíamos os dois em paz, aos quatro.
Agora, onde eu olhe, vejo o meu vulto
E a quantos fantasmas já dou resguardo.
Quando eu morrer, um ser desfigurado
Há-de achar-se estendido no caixão.
E o corpo transparente abrigará
Não um cadáver, mas coisa de um milhão.
Gerrit Komrij, in Contrabando – uma antologia poética, trad. Fernando Venâncio, pos. Arie Pos, Assírio & Alvim, Setembro de 2005, p. 65. Sobre o mesmo livro, publiquei um post aqui.
3 comentários:
Todas as manhãs quando vou no carro, espetam-me com ligações em direto com as cotações da bolsa. Como é rádio nacional deve ser uma coisa importante para os portugueses que como eu vão a caminho do trabalho.
Nunca ouvi uma ligação à Assirio & Alvim, para nos dar uma poesia em direto.
Vou tentar ser lógico a partir daqui. ...
Acho que não consigo ou não quero. Que se lixe. Como diziam os táxis, não faz mal, só eu me faço mal.
A rádio que se foda.
A minha única dúvida é se ela estará fisiologicamente apetrechada para a função. Nunca ouvi duas estações no truca-truca.
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