terça-feira, 10 de julho de 2012

PROVA DA EXISTÊNCIA DA ALMA

Deixaste a ressurreição a meio.
Não me lembro de nada tão incompleto como ela.
O meu director fala de objectivos, fazemos mapas
e somos despedidos se. Ou temos prémios
e corrupção. Haja alguma arte em tudo isto.
Senhor, o teu corpo está seco na gaveta.
Estás no meio de nós coberto de bolor.
A morte chega a ser desejada tal o sofrimento.
Nas palavras de São Paulo a criação teve parto e dores
em relação. Um prelúdio, sabemos hoje, prelúdio
sem mais nada. Os animais não aspiram à eternidade.
Nisto devia consistir a alma que lhes foi negada.
Por menos despediria eu um empregado.
O meu cão brinca a que eu sou o cão dele.
Atira-me um osso e corro atrás, todos corremos atrás.
Mas é assim que se sobe na vida porque aspiramos.
Prova provada de que temos alma
.


Rosa Alice Branco, in O Gado do Senhor, XVII Premio de Poesía Espiral Maior, Edicións Espiral Maior, 20 de Novembro de 2009, Culleredo - A Coruña - Galicia, p. 35.

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