segunda-feira, 13 de agosto de 2012

LOUIS MACNEICE



Vejam bem como é relativo esse estereótipo de um país de poetas. Nascido em Belfast no dia 12 de Setembro de 1907, filho de um pastor protestante e de uma professora primária, Louis MacNeice perdeu a mãe muito cedo. Teria seis anos de idade quando esta foi internada com uma depressão profunda. Nunca mais a viu. MacNeice começou por estudar em Sherborne, mudando-se posteriormente para Marlborough. Aí que começou a desenvolver o interesse pela escrita, colaborando com as revistas escolares. Em 1925 conseguiu uma bolsa para estudar em Oxford. Conheceu W. H. Auden, de quem se aproximou por via do interesse mútuo pela poesia. Em 1929 publicou Blind Fireworks, dedicado a Mary Ezra – com quem veio a casar, um ano depois, apesar da oposição familiar. Em 1932 escreveu um romance recebido sem interesse. Influenciado por Auden, aproximou-se das teses comunistas com um permanente sentido crítico. À época, depois de um interregno na escrita de poesia, por julgá-la inconciliável com a vida doméstica, partilhou poemas novos com Auden e T. S. Eliot. Em Setembro de 1934, depois de Eliot publicar alguns dos seus poemas no The Criterion, conheceu W. B. Yeats em Dublin. Poems, publicado pela Faber and Faber em 1935, contribuiu para que se afirmasse definitivamente como um dos poetas da nova geração. Separou-se de Mary Ezra, entregou o filho de ambos aos cuidados de uma ama e fez algumas viagens (Espanha, Islândia, Londres...). Apesar de divorciado, e com a guarda do filho, continuou a escrever-se com a antiga mulher. Teve um caso com a pintora Nancy Coldstream, resultando este num livro com poemas dele e ilustrações dela: I Crossed the Minch. Cada vez mais dedicado à poesia, escreveu também peças de teatro e traduziu alguns clássicos gregos. Continuou a viajar, fazendo leituras, travando conhecimento com os grandes escritores do seu tempo. Fez carreira como jornalista para a BBC, publicou Plant and Phantom, dedicado a Eleanor Clark, com quem teve um caso em Nova Iorque, e, em 1942, três meses depois da morte do pai, voltou a casar. Hedli Anderson, cantora e actriz, foi a segunda mulher. Por essa altura, criou fortes laços de amizade com Dylan Thomas. Empenhado no trabalho para a BBC, viajou muito e escreveu fervorosamente. O casamento com Hedli Anderson começou a deteriorar-se devido aos problemas de MacNeice com a bebida e às relações com outras mulheres. Uma viagem à África do Sul levou-o aos braços da actriz Mary Wimbush, que havia actuado em várias peças do poeta. Cada vez mais dependente da bebida, acabou por separar-se de Hedli. Em 1963, numa viagem a Yorkshire, foi apanhado no meio de uma tempestade e contraiu uma pneumonia fatal. Morreu com 55 anos de idade, a 3 de Setembro de 1963. Foi enterrado em Carrowdore, junto ao corpo da sua mãe. Auden leu alguns poemas na cerimónia:


AUTOBIOGRAFIA

Na minha infância as árvores eram verdes
E havia imensas para serem vistas.
Volta cedo ou nunca mais voltes.

O meu pai fazia as paredes ecoar,
Ele usava a gola do avesso.
Volta cedo ou nunca mais voltes.

A minha mãe usava um vestido amarelo;
Com suavidade, com suavidade, docilmente.
Volta cedo ou nunca mais voltes.

Os pesadelos apareceram pelos cinco anos;
Nada foi igual posteriormente.
Volta cedo ou nunca mais voltes.

A escuridão falava com os mortos;
A candeia junto à minha cama estava escura.
Volta cedo ou nunca mais voltes.

Quando acordei, eles não quiseram saber;
Ninguém, ninguém estava lá.
Volta cedo ou nunca mais voltes.

Quando o meu pânico silencioso gritou,
Ninguém, ninguém respondeu.
Volta cedo ou nunca mais voltes.

Levantei-me; o sol fresco
Viu-me a partir sozinho.
Volta cedo ou nunca mais voltes.


Versão de HMBF.

2 comentários:

manuel a. domingos disse...

ó poema do catano!

hmbf disse...

O original é bem melhor.