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Camarada Van Zeller, o Cristiano Ronaldo anda triste. Embora ele diga que as pessoas sabem porquê, ninguém parece saber porquê (à excepção, talvez, do Miguel Sousa Tavares, da Joana Amaral Dias, do Medina Carreira, do professor Marcelo e do professor Bamboo). É difícil conjugar a tristeza do CR7 com Portugal a arder, a única boa notícia recebida pelos portugueses nas últimas semanas. A borrar o cenário, só mesmo os paraolímpicos. A alegria dos deficientes chega a ser pornográfica perante a tristeza do melhor jogador do mundo e arredores. Como é óbvio, para um português o mundo termina em Elvas. E eu desconfio das razões para aquela tristeza, mas vou já adiantando que, a verificarem-se, não se justificam. Desconfio que o Cristiano ande tristonho por causa das alterações ao Código do Trabalho.
A maioria dos portugueses deve orgulhar-se de mais este esforço, não tendo quaisquer razões para melancolias. Tristezas não pagam dívidas. Mas o CR já não é apenas português, é galáctico. Logo, é verdade que tem fortes argumentos a favor da sua anunciada mágoa. Ainda assim, sempre que jogar a um feriado o Cristiano receberá menos de metade do que recebia? Terá menos dias de férias e o trabalho nos feriados será compensado pela metade? O Ministro da Economia já veio acalentá-lo, dizendo-lhe ao ouvido que, para ele, mais milhão, menos milhão. A federação paga. O que se pretende é dinamizar o mercado de trabalho. Como? Carregando sobre os trabalhadores que, só não o percebe quem for parvo (tipo o Ministro da Economia), também são consumidores.
Vendo reduzidas as suas capacidades de consumo, é mais que legítimo que o trabalhador se questione sobre para quem e para quê anda ele a trabalhar? A gente sabe que é para as contas bancárias dos administradores e dos gestores, classes especiais de trabalhadores que se permitem aumentar os seus salários a fim de poderem fazer face às épocas difícies. Cresce, deste modo, o fosso das desigualdades salariais no Portugal actual - o Portugal da cristianidade. O que é de admirar é a passividade dos portugueses, que seguindo o pior dos exemplos se limitam a andar tristonhos e cabisbaixos. A Manuela Ferreira Leite dizia que a democracia precisava de parar durante uns tempos, nós julgamos que ela precisa de mais Tonys… caralhe.
Já não é apenas o problema da corrupção, camarada Van Zeller, que nos aflige, é essa corrupção tornar-se legítima com as práticas corruptas de quem governa. Porque corromper não é apenas infringir, é estragar, destruir, é arruinar. E outra coisa não têm feito os troikloditos. Se não, pergunte-se a quem insiste na necessidade de se pagar a dívida: quem contraiu essa dívida? E exija-se uma resposta clara. Quem a contraiu que a pague. E obrigue-se quem diz que andámos a viver acima das nossas possibilidades o que quer dizer com isso. Porque eu nunca andei. Os Cavacos dos CCBs e das Expos, os Guterres dos Euros e afins, os Sócrates das PPPs que sejam definitivamente julgados por terem dado alimento ao mal. Num país onde não há justiça e o povo é mole, continuarão luminárias congéneres a fazer os mesmos estragos… legitimados, sempre, pelas leis que os próprios criam para poderem encher os seus bolsos e os dos amigos indo às carteiras da maioria dos portugueses. Perante ladrões, larápios, vigaristas e gatunos, não se pode ficar tristonho como o CR7. É preciso ser-se implacável como um paraolímpico.
2 comentários:
Rogil fez-te bem. A reflexão está mais apurada! Gosto de te ler. Abraço, mg
é dos "perceves" :-)
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