terça-feira, 27 de novembro de 2012

OLHOS NOS OLHOS

- Boa noite, professor…
- Olá Judite, ‘tá boa?
- Isso é uma afirmação ou uma pergunta, professor?!
- Ó Judite, interprete como quiser. A verdade é que não há solução para isso.
- Isso o quê, professor Medina Carreira?
- Isso. Com a agravante de eu o ter previsto há, pelo menos, 800 anos.
- 800 anos?
- Ah pois! Só que ninguém quis fazer caso disto.
- Disto o quê, professor?
- Judite, repare. Nós já não estamos no meio de uma catástrofe. Nós estamos sobre os destroços da catástrofe.
- Qual catástrofe, professor Medina Carreira?
- Este terramoto fiscal. Com a agravante de eu o ter previsto há, vá lá, 600 anos.
- Há-de haver uma solução…
- Pois há, é o tsunami que se segue ao terramoto.
- Um marmoto, quer o professor dizer?...
- Não, um terramoto é uma coisa. Um marmoto é outra. Mas isso não importa. O que importa é que vamos ser todos, sem excepção, arrastados na corrente, entre destroços. Uns, coitaditos, enterrados em lama até ao pescoço. Outros, nem isso. Já não têm pescoço.
- Mas ó professor Medina…
- Judite, repare, neste gráfico podemos ver as oscilações das placas tectónicas nas últimas três décadas do país. O que isto revela é que eu tenho um gráfico com as oscilações das placas tectónicas nas últimas três décadas do país.
- E?
- E?!
- Sim, professor Medina Carreira. E o que quer isso dizer?
- Não se está mesmo a ver, Judite? Se reparar bem está tudo aqui.
- Onde?
- No gráfico.
- Mas o que quer dizer esse gráfico em concreto.
- Bem, vamos pôr as coisas nestes termos. Isto quer dizer que depois do terramoto teremos um tsunami.
- O que é que o professor propõe para resolvermos esse... tsunami?
- Eu não proponho nada, Judite. Eu disse tudo e ninguém me quis dar ouvidos. Agora aguentem-se.
- Mas o professor também vai ter que se aguentar, também será arrastado na corrente.
- Eu já não interesso, estou velho. E sei nadar. O pior será para os vindouros.
- O que é que pode ser feito por eles?
- Judite, repare, nada pode ser feito. O que eu sei é que por este caminho vai cair um meteorito sobre todos nós.
- Mas isso seria o fim do planeta.
- Não propriamente.
- Pior que isso não há, professor.
- A Judite não está a ver bem. O planeta vai desintegrar-se, como um pedregulho desfeito em pequenos calhaus espalhados pela estratosfera.
- Pode ser?
- Ah não tenha dúvidas. E os calhaus vão desfazer-se em pó.
- É o fim, professor. É o fim.
- Não, Judite. O Homem da Lua vai limpar a poeira com o seu aspirador cosmogónico, vai meter-nos a todos dentro de um saco e depois vai enterrar-nos num buraco na Lua para poder mijar em cima do buraco e rir-se de todo este circo.
- O professor acredita no Homem da Lua.
- Judite, você não acredita em mim?

2 comentários:

Anabela disse...

:)

DL disse...

O "professor Medina" não está lá pelas suas qualidades de economista, mas por dar boa televisão. E a pessoa que melhor sabe disso é quem lhe faz as perguntas.