Leio em rodapé na televisão que muitos portugueses deprimem
no regresso das férias. Notícia tão previsível e óbvia que nem devia ser
notícia. Aceita-se como rodapé. Muitos portugueses, a maioria, são infelizes. No
trabalho, na vida. Estudos, estatísticas, apontam nesse sentido. O caso
português não é sequer agravado pelo fado, tem que ver com uma outra ordem de
razões. País velho, com uma história onerosa, faz de cada um dos seus cidadãos
uma espécie de Sísifo. A gente carrega o país às costas, é a nossa pena.
Carrega-o como um fardo, aceitando o privilégio de duas semanas para descansar
de subir e descer a mesma montanha entediante da vida. Acresce o dever moral,
as obrigações, a consciência a pesar por aqueles que nem duas semanas podem
roubar ao destino para descanso. Os portugueses têm trabalhos de que não
gostam, vivem frustrados, levam vidas a contragosto, o leque de oportunidades,
por assim dizer, é reduzidíssimo para quem não tenha apelido nem situação. Os
portugueses não deprimem no regresso das férias, voltam à realidade,
restabelecem os índices miseráveis de alegria quotidiana. O que é estranho, e
por isso deveria ser notícia, é os portugueses terem pelo menos duas semanas
por ano para sorrir com leveza.
2 comentários:
Morar num país pequeno e lindo como o seu é um privilégio que eu gostaria de ter. Small is beautiful. Aqui no Brasil temos problemas bem mais graves para cairmos em depressão profunda!
Sonia, o pequeno é relativo. O "mais graves" lembra-me aquela coisa dos problemas dos outros e da galinha da vizinha e.... Enfim, há milhões de razões superficiais para cairmos em depressão profunda e milhões de razões profundas para cairmos em depressão superficial. Quanto ao resto, «Acresce o dever moral, as obrigações, a consciência a pesar por aqueles que nem duas semanas podem roubar ao destino para descanso.»
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