Há dias escrevi que a perspectiva antecipada sobre o
último álbum de Nick Cave me assustava, sobretudo por me parecer um registo
sentimentalista onde a dimensão artística poderia perder-se. Sou fã do trabalho
de Nick Cave desde os velhinhos The Birthday Party. No entanto,Tender Prey (1988) e The
Good Son (1990), que ainda por aqui resistem no formato LP, foram os álbuns que
me cativarem para o universo “caveano”. Já tenho ali, para ouvir
com atenção, Skeleton Tree (2016). Ainda não é hoje que o irei fazer, mas sugiro
a leitura deste post assinado pelo João Lisboa. Excerto:
Em One More Time With Feeling, documentário de
Andrew Dominik em torno da gravação de Skeleton Tree, a começar pelo
próprio título, há sentimentos, só sentimentos e nada mais do que sentimentos.
Dificilmente poderia ser de outra forma uma vez que todo o processo de filmagem
ocorreu pouco depois da morte de Arthur Cave, filho adolescente de Nick e Susie
Bick, em Julho do ano passado, consequência da queda de uma escarpa, em
Brighton, após ingestão de LSD. E é isso – nunca explicitamente nomeado durante
todo o filme mas apenas referido como “the event” – que paira como
uma assombração e atribui um acréscimo de sentido às imagens e à música, mesmo
que grande parte desta estivesse já escrita antes do desaparecimento de Arthur.
A grande questão, contudo, é saber se esse acréscimo é ou não um factor
positivo para a economia de um filme que, aqui e ali, parece menos um
documentário – registo de acontecimentos, declarações, testemunhos – do que
algo razoavelmente encenado: o Nick Cave que se olha ao espelho e,
surpreendido, repara nas olheiras que não tinha antes, foi apanhado assim, sem
preparação? A exibição que Susie faz do quadro em que Arthur desenhou o local
onde viria a morrer foi uma ideia surgida no momento?...
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