segunda-feira, 28 de novembro de 2016

FLASHING FOR THE REFUGEES ON THE UNARMED ROAD OF FLIGHT

Muitas canções de Another Side of Bob Dylan (1964) distanciam-se do tom socialmente empenhado dos registos anteriores, enveredando por um lirismo de tipo romântico marcado por histórias onde incompatibilidades diversas colocam o amor em xeque. All I Really Want to Do dirige-se desde logo a uma segunda pessoa, neste caso indefinida, declarando uma posição sobre o relacionamento a dois: «I ain’t lookin’ for you to feel like me / See like me or be like me». Canções como Black Crow Blues ou I Don’t Believe You, mas também Ballad in Plaine D ou It Ain’t Me, Babe exibem o estigma da separação. Noutros casos, a presença de personagens femininas – a «gypsy gal» de Spanish Harlem Incident, Ramona, ou mesmo Rita da divertida Motorpsycho Nightmare – parecem aludir a uma espécie de incompatibilidade entre o espírito livre e alucinado do trovador, como se nota em I Shall Be Free N.º 10, e os requisitos de uma existência a dois. 
É relevante que no primeiro volume das crónicas Bob Dylan reforce a importância determinante que a família acabou por exercer nas suas decisões, sobretudo na opção por uma vida recatada e tanto quanto possível concentrada no núcleo familiar. Mas mais relevante ainda é tentar conciliar essa opção com a bandeira da liberdade. Naquela que é talvez a mais reinterpretada canção de Another Side of Bob Dylan é-nos oferecida uma perspectiva complexa da liberdade, a qual aceita no seu vasto programa todos quantos à face da terra façam da vida uma luta pela sobrevivência. O que é a liberdade senão esta possibilidade de, como se costuma dizer, fazer pela vida? 
Chimes of Freedom é um poema enorme em qualquer parte do mundo, daí que não seja de estranhar o sentido que faz tanto na voz de Bruce Springsteen como na de Youssou N’Dour. Os The Byrds ofereceram-lhe uma versão açucarada, saltando três estrofes inteiras. Mas vale mesmo a pena ler aqui a letra na íntegra.


Sem comentários: