Muitas canções de Another Side of Bob Dylan (1964)
distanciam-se do tom socialmente empenhado dos registos anteriores, enveredando
por um lirismo de tipo romântico marcado por histórias onde incompatibilidades
diversas colocam o amor em xeque. All I Really Want to Do dirige-se desde logo a uma
segunda pessoa, neste caso indefinida, declarando uma posição sobre o
relacionamento a dois: «I ain’t lookin’ for you to feel like me / See like me
or be like me». Canções como Black Crow Blues ou I Don’t Believe You, mas
também Ballad in Plaine D ou It Ain’t Me, Babe exibem o estigma da separação.
Noutros casos, a presença de personagens femininas – a «gypsy gal» de Spanish
Harlem Incident, Ramona, ou mesmo Rita da divertida Motorpsycho Nightmare –
parecem aludir a uma espécie de incompatibilidade entre o espírito livre e alucinado
do trovador, como se nota em I Shall Be Free N.º 10, e os requisitos de uma existência
a dois.
É relevante que no primeiro volume das crónicas Bob Dylan reforce a
importância determinante que a família acabou por exercer nas suas decisões,
sobretudo na opção por uma vida recatada e tanto quanto possível
concentrada no núcleo familiar. Mas mais relevante ainda é tentar conciliar
essa opção com a bandeira da liberdade. Naquela que é talvez a mais
reinterpretada canção de Another Side of Bob Dylan é-nos oferecida uma
perspectiva complexa da liberdade, a qual aceita no seu vasto programa todos quantos à face da terra façam da vida uma luta pela sobrevivência. O que
é a liberdade senão esta possibilidade de, como se costuma dizer, fazer pela
vida?
Chimes of Freedom é um poema enorme em qualquer parte do mundo, daí que
não seja de estranhar o sentido que faz tanto na voz de Bruce Springsteen como
na de Youssou N’Dour. Os The Byrds ofereceram-lhe uma versão açucarada,
saltando três estrofes inteiras. Mas vale mesmo a pena ler aqui a letra na
íntegra.
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