quinta-feira, 16 de março de 2017

COLCHÃO

Há dias, ao chegar a casa, vi uma vizinha parada no meio do largo com um colchão na mão. Vestida de preto da cabeça aos pés, com lenço na cabeça, presumo que cumprindo o luto a que obriga a tradição cigana. Perguntei-lhe se precisava de ajuda a transportar o colchão. Respondeu-me com um sorriso. Agarrei de um lado, ela do outro, e enquanto o deslocávamos na direcção do prédio foi-me agradecendo, que Deus me pagasse, tinha encontrado o colchão junto ao lixo, estava em boas condições, havia que aproveitá-lo. Quando o largámos à porta do prédio, voltou a agradecer-me: que Deus me pagasse. Estava vestida de preto, da cabeça aos pés, com lenço na cabeça. Acho que se uma mulher quiser vestir-se de preto da cabeça aos pés, deve poder fazê-lo. Acho que se não quiser, ninguém a deve obrigar. Acho que as pessoas devem poder apresentar-se de acordo com as suas convicções, com a sua cultura, etnia. E acho que não custa nada ajudar alguém a transportar um colchão.  

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