sexta-feira, 14 de julho de 2017

SHOWDOWN (1973)


   O último filme de um genuíno produto de Hollywood. George Seaton (n. 1911 – m. 1979) fez carreira nos musicais e nas comédias românticas, antes de ter escrito para os Irmãos Marx, arrecadou dois Oscars como melhor argumentista por The Country Girl (1954) e Miracle on 34th Street (1947), estreou-se na Broadway em 1944 sem grande sucesso. Há quem considere sobrevalorizado o seu legado, há quem se oponha considerando as preocupações com o público e os sucessos de bilheteira. Airport (1970) é ainda hoje um dos mais lucrativos filmes de sempre. A carreira como realizador terminou com Showdown/O Duelo (1973), obra menor para actores maiores. Rock Hudson e Dean Martin são as estrelas da companhia, mas nem o primeiro tem nada que ver com o Jordan ‘Bick’ Benedict Jr. de Giant (1956), nem o segundo presta a mínima homenagem ao Dude de Rio Bravo (1959). A relação de George Seaton com o western não era ingénua à época. Foi co-produtor do excelente The Tin Star/Sangue no Deserto (1957), de Anthony Mann. Numa fase muito incipiente da carreira emprestou voz a The Lone Ranger num programa radiofónico, reclamando para si a criação do famoso grito de guerra "Hi-yo, Silver!" No entanto, Showdown acaba por ser uma despedida das salas de cinema demasiado sentimental e algo frouxa.
   Martin e Hudson são velhos amigos de infância, separados em idade adulta pelo amor a uma mesma mulher. A separação faz-se sem rancor nem feridas, como num divórcio amigável. Martin, no papel de Billy Massey, é o mais rebelde dos dois. É ele quem deixa para trás a quinta construída com o amigo Chuck Jarvis e se põe a caminho do México. O filme começa com Massey envergando a estrela de xerife enquanto transporta um prisioneiro numa viagem de comboio. Entulho amontoado na linha obriga a uma paragem, dando-se então um assalto. Não há resistência, tudo acontece com uma tranquilidade estranha aos westerns desde The Great Train Robbery (1903). Subitamente apercebemo-nos de que Massey não é xerife, está disfarçado para um baile de Carnaval improvável. Os passageiros colocam todos os bens e armas na sua mão, ele agradece com mordomia e põe-se na alheta. O tom de comédia ligeira, caro a George Seaton, percorrerá praticamente todo o filme, em diálogos repletos de gags inofensivos e de situações cómicas anódinas. Puro entretenimento.
   O que Billy Massey não sabe é que neste regresso às terras de onde partiu terá de confrontar o seu velho amigo Chuck. A ironia está em que este foi realmente nomeado xerife na cidade que viu ambos crescerem juntos. Durante a perseguição, os dois divertem-se num jogo de gato e de rato sem consequências dramáticas para nenhum dos lados. As artimanhas de um não ludibriam o outro, são crianças crescidas perdidas em brincadeiras de adultos, atravessadas por memórias que nos surgem em sucessivos flashbacks. Este jogo das escondidas só ganha algum interesse na sequência final, aquela que garantirá a Showdown um lugar na memória do público. No decorrer de uma trovoada seca, uma árvore é atingida por um relâmpago gerando um incêndio na floresta. Massey segue na direcção do incêndio, numa derradeira tentativa de despistar Chuck. O cavalo amedronta-se e foge, Massey fica apeado no meio do fogo. Já debaixo de chuva, no meio de um cenário de cinzas e de madeira queimada, Chuck avista o corpo carbonizado do cavalo de Billy. No seu rosto percebemos que teme o pior. Mas Massey conseguiu proteger-se, sobreviveu para o duelo final. Não será propriamente um duelo, já que os dois acabarão juntos, a protegerem-se um ao outro contra os pistoleiros com quem Massey havia colaborado no assalto ao comboio. Esta reviravolta não é ocasional e o desfecho será o único momento verdadeiramente trágico neste western mais dado ao cómico.

   Assim como George Seaton se despediu do cinema com este filme, Dean Martin despediu-se dos westerns. Também estes factos laterais oferecem a Showdown um certo interesse. O resto é, como se diz no trailer, a game of hide and seek. O que não se diz é que por detrás deste jogo está uma máquina de entretenimento, de puro entretenimento, desinteressada dos elementos dramáticos que apelam à reflexão e das grandes narrativas trágicas que obrigam o pensamento a exercícios limite de dúvida acerca de uma axiologia que desde tempos remotos deu forma à humanidade e desde que há cinema o western interroga. 

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