Se excluirmos o conto Ossobó, a Obra Poética de Ruy
Cinatti iniciou-se em Março de 1941 com a publicação de Nós não Somos deste
Mundo. O primeiro verso desse livro é inteiramente definidor da obra
subsequente e da biografia que a sustentou. Raramente um primeiro verso terá
sido identicamente sintomático de uma obra tão vasta, aparentemente num pretérito
perfeito desadequado em livro de estreia. O poema:
1
Tão vagabundo eu fui
Neste campo de flores e silvas;
Aqueles que eu conheci não só vieram
Como se esconderam além de mim.
Em vão procuro arrancá-los,
A eles que por amigo me tomaram.
No sangue, indistintos, já de carne,
A carne do meu espírito formaram.
Agora, eu procuro a extrema-unção.
Mergulho num mar como se vê nos sonhos;
Não existem fantasmas que me salvem
E os outros desconhecem-me a imaginação.
Eis que eu apelo aos que me odeiam,
Dobrando-me a um tormento mais terrível;
Os que me amam, conhecem o mistério
Que torna a minha voz inesquecível.
Ruy Cinatti, in Obra Poética, Volume I, pref. Joana Matos
Frias, Assírio & Alvim, Outubro de 2016, p. 55.
2 comentários:
Quase nada conheço deste poeta senão o que li neste blog. Recomendas-me o "Sete Septetos"?
Sim. Recomendo tudo, sem qualquer hesitação.
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