Hoje há mais leitores que nunca no mundo, embora o seu nível médio seja espantosamente baixo. A aposta das editoras na exclusiva mecânica do enredo e na prioridade das estruturas funcionais, em detrimento da grande liberdade da criação, já levou o Kundera a falar em «testamentos traídos», e o grave é que não se ache grave que a enorme maioria dos milhões de pessoas que hoje consomem Dan Brown não esteja à altura de ler Rabelais, Cervantes ou Shakespeare. É desastroso, parece-me, que não se considere lastimável que, cinco séculos depois dos foliões analfabetos que o citavam nas tabernas, se considere Shakespeare como um espectáculo para elites. Ora, não se tenham dúvidas: é mais grave ler mal do que não ler.
António Cabrita, in Para Que Servem os Elevadores e outras indagações literárias, Alcance Editores, Maputo, Setembro de 2012, pp. 21-22.
1 comentário:
Não concordo.
É mais fácil começar a ler bem, depois de ler mal, que não ler nada...
Enviar um comentário