Afonso Cautela, sendo um poeta que se desinteressou muito cedo da publicação dos seus versos, já que tinha apenas 28 anos quando deu a lume o seu derradeiro livro, nunca parece ter deixado de atribui um alto significado ao fato de escrever versos, como ora se vê pela quantidade de inéditos publicados e que fazem parte das caixas do seu espólio entregue à Torre do Tombo. (...) Há poetas que escrevem para publicar em livro. Têm de passar todos os anos o exame do público e da crítica. São poetas esforçados, que se obrigam a prestar provas do seu talento - o estilo existe aí para dar notícia de si. Há depois os poetas que escrevem e não publicam. Dentro desta categoria há duas classes: os que de momento não publicam mas aguardam a publicação a médio ou longo termo e os que de todo afastam do seu horizonte a possibilidade de editar em livro. Cautela faz parte desta segunda categoria, a única que de verdade escreve para não publicar.
António Cândido Franco, in A "Arte Bruta" de Afonso Cautela, publicado na revista Flauta de Luz, n.º 5, Abril de 2018, pp. 144-148.
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