domingo, 1 de julho de 2018

JOGAR SEM BOLA


No rescaldo da partida com o Uruguai, Rui Santos (quem mais?) assevera que Portugal foi fraco a jogar sem bola. Sinto-me obrigado a discordar. Na realidade, julgo que os melhores momentos do jogo de Portugal sucederam quando não tínhamos bola. As estatísticas dizem que tivemos uma posse de 60 e qualquer coisa % para 30 e picos %, pelo que aqueles 20 e tal % sem bola terão sido cruciais. Mas isso é estatístico. Neste momento, neste preciso momento, assisto a toda uma vizinhança sem bola à janela. São todos campeões de alguma coisa, como dizia o poeta. Eu é que não sei o quê. Aquele ganhou a taça do dia a fumar um cigarro na varanda, o outro exibe aceleradelas no Peugeot turbinado, aquela mostra as pernas a quem queira contemplá-las, a outra estende a roupa e chama putas às vizinhas, este passeia o cão, além há quem engendre uma espécie de funk favela cigano e acolá, perdoem-me a presunção, a vizinha do 44, 2.º dt.º acabou de me fazer um sinal que leva a crer na possibilidade de uma vida feliz. Diz o outro que Portugal jogou pouco sem bola, eu não posso senão discordar. Julgo que sem bola fomos campeões, ninguém nos bate sem bola. Com bola é que é o carvalho, mas isso são outros campeonatos.

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