quarta-feira, 20 de março de 2019

O RAPAZ QUE PRENDEU O VENTO


The Boy Who Harnessed the Wind (2019) marca a estreia de Chiwetel Ejiofor na realização. Vimo-lo como actor secundário em Amistad (1997), de Steven Spielberg, já com outro protagonismo em Dirty Pretty Things/Estranhos de Passagem (2002), curioso filme de Stephen Frears, no inesquecível papel de Solomon Nortup, em 12 Years a Slave (2013), do impagável Steve McQueen. A temática africana mantém-se, aparentemente enquanto viagem ao encontro das raízes. Chiwetel é filho de nigerianos, descendente da etnia Igbo. The Boy Who Harnessed the Wind baseia-se nas memórias de William Kamkwamba, famigerado engenheiro do Malawi que em criança salvou da fome a sua aldeia ao construir um moinho de vento que alimentava uma bomba de onde provinha água para consumo e cultivo. Sem perder de vista a questão política, Chiwetel preferiu centrar-se na relação do jovem Kamkwamba com o pai. As questões familiares oferecem às personagens uma ideia de conflito geracional que permite elaborar o elogio do conhecimento, a importância da escola e da informação, contra uma atitude conservadora de arraigamento às tradições rurais. O poder da inovação tecnológica enquanto superação de limitações físicas e geográficas, mas também culturais, é uma das possibilidades de leitura deste filme. A temática política, ilustrada pelo abandono e pelo oportunismo das forças no poder perante uma situação calamitosa, parece secundária. O que mais importa é a relação entre William Kamkwamba, interpretado pelo jovem Maxwell Simba, e o pai Trywell Kamkwamba, recriado pelo próprio Chiwetel Ejiofor. As personagens ora comunicam no dialecto local, ora falam num inglês carregado de pronúncia. Nota-se o esforço de recriação de uma paisagem agreste, marcada pela carência de recursos, pela pobreza generalizada, por um sistema educativo altamente deficitário. William é um jovem de origens humildes, impedido de desenvolver o seu potencial intelectual por ser afastado da escola devido à falta de pagamento de propinas. Por si só, a história já é tocante. O filme acrescenta-lhe uma dimensão altamente emocional, a espaços refreada pela necessidade de denúncia de um sistema que em nada contribuiu para que possa sair da pobreza quem nela nasceu. As imagens que chegam agora de Moçambique superam em tudo aquilo que um filme destes possa ilustrar. Sabemos que contra a fúria da Natureza pouco resta aos homens, mas assistir à destruição, em larguíssima escala, provocada pela passagem de um ciclone, dá bem conta das fragilidades de um país onde as populações ficam à mercê do azar. Não é só os telhados que voaram onde havia telhados, as ruas invadidas pela fúria das águas, as sensações de desamparo e desabrigo deixadas pelo rastro de destruição, é também tudo o que se lhe segue, a fome e a doença, esta condenação ao fracasso impossível de aceitar.

2 comentários:

Ivo disse...

Bem sei que nada tem que ver com o post, mas aqui deixo uma sugestão para um apreciador de westerns:
https://www.cherryred.co.uk/product/music-from-the-westerns-of-john-wayne-and-john-ford/

hmbf disse...

Obrigado.