The Boy Who Harnessed the Wind (2019) marca a estreia de Chiwetel
Ejiofor na realização. Vimo-lo como actor secundário em Amistad (1997), de
Steven Spielberg, já com outro protagonismo em Dirty Pretty Things/Estranhos de
Passagem (2002), curioso filme de Stephen Frears, no inesquecível papel de
Solomon Nortup, em 12 Years a Slave (2013), do impagável Steve McQueen. A
temática africana mantém-se, aparentemente enquanto viagem ao encontro das
raízes. Chiwetel é filho de nigerianos, descendente da etnia Igbo. The Boy Who
Harnessed the Wind baseia-se nas memórias de William Kamkwamba, famigerado
engenheiro do Malawi que em criança salvou da fome a sua aldeia ao construir um
moinho de vento que alimentava uma bomba de onde provinha água para consumo e
cultivo. Sem perder de vista a questão política, Chiwetel preferiu centrar-se
na relação do jovem Kamkwamba com o pai. As questões familiares oferecem às
personagens uma ideia de conflito geracional que permite elaborar o elogio do
conhecimento, a importância da escola e da informação, contra uma atitude
conservadora de arraigamento às tradições rurais. O poder da inovação
tecnológica enquanto superação de limitações físicas e geográficas, mas também
culturais, é uma das possibilidades de leitura deste filme. A temática política,
ilustrada pelo abandono e pelo oportunismo das forças no poder perante uma
situação calamitosa, parece secundária. O que mais importa é a relação entre
William Kamkwamba, interpretado pelo jovem Maxwell Simba, e o pai Trywell
Kamkwamba, recriado pelo próprio Chiwetel Ejiofor. As personagens ora comunicam
no dialecto local, ora falam num inglês carregado de pronúncia. Nota-se o
esforço de recriação de uma paisagem agreste, marcada pela carência de
recursos, pela pobreza generalizada, por um sistema educativo altamente
deficitário. William é um jovem de origens humildes, impedido de desenvolver o
seu potencial intelectual por ser afastado da escola devido à falta de
pagamento de propinas. Por si só, a história já é tocante. O filme
acrescenta-lhe uma dimensão altamente emocional, a espaços refreada pela
necessidade de denúncia de um sistema que em nada contribuiu para que possa
sair da pobreza quem nela nasceu. As imagens que chegam agora de Moçambique
superam em tudo aquilo que um filme destes possa ilustrar. Sabemos que contra a
fúria da Natureza pouco resta aos homens, mas assistir à destruição, em
larguíssima escala, provocada pela passagem de um ciclone, dá bem conta das
fragilidades de um país onde as populações ficam à mercê do azar. Não é só os
telhados que voaram onde havia telhados, as ruas invadidas pela fúria das
águas, as sensações de desamparo e desabrigo deixadas pelo rastro de
destruição, é também tudo o que se lhe segue, a fome e a doença, esta
condenação ao fracasso impossível de aceitar.
2 comentários:
Bem sei que nada tem que ver com o post, mas aqui deixo uma sugestão para um apreciador de westerns:
https://www.cherryred.co.uk/product/music-from-the-westerns-of-john-wayne-and-john-ford/
Obrigado.
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