A meu pai.
O perfume a roupa lavada liberta-se
dos estendais, voluteando no ar até sossegar sobre a terra como um manto de
sementes. O aroma enraíza-se, então, frágil e persistente, obedecendo ao ritmo
das estações que, de ano para ano, nos brindam com papoilas passageiras. Minha
mãe está fechada num quarto de hospital, sonhando sabe-se lá com quê durante as
intermediáveis vinte e quatros horas do dia. Levaram-lhe uma orquídea ao quarto
para que pudesse reconfortar-se com vida contemplando as pétalas, omitindo que,
pouco depois, a flor se despediu do mundo entre sacos de lixo com gaze manchado
de sangue, máscaras cirúrgicas, fraldas. Meu pai está preocupado que ela
não venha a saber de uma flor nova desabrochada no quintal. Talvez seja
africana, aqui trazida pelo vento.
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