domingo, 18 de julho de 2021

PÁTRIA


Não conheço um português que não diga mal de Portugal e dos portugueses. Paradoxalmente, também não conheço nenhum que não se empertigue sempre que um estrangeiro se refere depreciativamente ao nosso país. E logo começam a defendê-lo com unhas e dentes, gabando clima, gastronomia, hospitalidade, solidariedade. No fundo, somos um povo rústico que adora ouvir-se a si mesmo e detesta escutar os outros. Isto também explica as maiorias absolutas que demos a Cavaco e José Sócrates, a entronização de Ricardo Salgado e Joe Berardo, o modo como endeusamos presidentes de clubes de futebol ao nível de Vale e Azevedo e Luís Filipe Vieira (refiro apenas dois do maior clube português, mas é mal que toca a quase todos). O célere desenrascanço português em mais não consiste do que beijar a mão aos poderosos na fé de que nos possam ser úteis. As autarquias portuguesas estão atoladas de incompetentes em cujos currículos o aspecto mais valioso é a lista de contactos e amizades, aproximações familiares e partidárias. Contratamos mais por cunha do que por competência, pelo que os resultados ficam à vista em matéria de corrupção. Os grandes corruptos não são senão uma evolução natural dos pequenos corruptos, os que vivem de servicinhos e de jeitinhos, de expedientes, oportunistas com capacidades extra, atentos às lacunas da lei para poderem contornar a lei. Depois chama-lhe jogo de anca e riem, gabam-se, são gabados, fazem rir. Quase toda a gente tem telhados de vidro, pelo que não gostamos de ouvir os de fora dizerem em voz alta o que somos pela calada. Preferimos uma certa discrição a que atribuímos o eufemismo “saber estar”, não ser inconveniente, para podermos invectivar aqueles que, caídos em desgraça, foram por nós venerados no passado. Um país de hipócritas nos carris do nepotismo com funâmbulos e arrivistas a rodos, muito orgulhosos da pátria quando a bandeira sobe lá fora. 

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