Não conheço um português que
não diga mal de Portugal e dos portugueses. Paradoxalmente, também não conheço
nenhum que não se empertigue sempre que um estrangeiro se refere
depreciativamente ao nosso país. E logo começam a defendê-lo com unhas e
dentes, gabando clima, gastronomia, hospitalidade, solidariedade. No fundo,
somos um povo rústico que adora ouvir-se a si mesmo e detesta escutar os
outros. Isto também explica as maiorias absolutas que demos a Cavaco e José
Sócrates, a entronização de Ricardo Salgado e Joe Berardo, o modo como
endeusamos presidentes de clubes de futebol ao nível de Vale e Azevedo e Luís
Filipe Vieira (refiro apenas dois do maior clube português, mas é mal que toca
a quase todos). O célere desenrascanço português em mais não consiste do que
beijar a mão aos poderosos na fé de que nos possam ser úteis. As autarquias
portuguesas estão atoladas de incompetentes em cujos currículos o aspecto mais
valioso é a lista de contactos e amizades, aproximações familiares e
partidárias. Contratamos mais por cunha do que por competência, pelo que os
resultados ficam à vista em matéria de corrupção. Os grandes corruptos não são
senão uma evolução natural dos pequenos corruptos, os que vivem de servicinhos
e de jeitinhos, de expedientes, oportunistas com capacidades extra, atentos às
lacunas da lei para poderem contornar a lei. Depois chama-lhe jogo de anca e
riem, gabam-se, são gabados, fazem rir. Quase toda a gente tem telhados de
vidro, pelo que não gostamos de ouvir os de fora dizerem em voz alta o que
somos pela calada. Preferimos uma certa discrição a que atribuímos o eufemismo “saber
estar”, não ser inconveniente, para podermos invectivar aqueles que, caídos em
desgraça, foram por nós venerados no passado. Um país de hipócritas nos carris
do nepotismo com funâmbulos e arrivistas a rodos, muito orgulhosos da pátria
quando a bandeira sobe lá fora.
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