(fotografia da Margarida Araújo. José Luiz Tavares, no Teatro da Rainha, 19/10/21)
Ao ritmo algoz do cancioneiro
trepaste as cordas da literatura.
Depois veio um não verde
mas merencório cesário
mai-lo fernando despessoado.
O neo-realejo cantava de manhã
caminho de várzeas e usinas.
Por bastas léguas fedia a pituitária,
que tu, verde pastor de incertezas,
cautelar providência interpuseste
junto ao canoro de serviço.
Mas, antes, um camões fora de uso
(por profuso e muito luso?),
com arte maior, os tratos
e destratos do mundo te ensinara.
Aqui agora se não pastas
do ianque ou do saxão não tens safa:
é ouvir os seus hebdomadários e estultos
arautos tecendo, com a desmesura da sua
bronquidão, loas ao que tem apenas como
horizonte as domésticas vicissitudes,
mas não o confiado pavor do erro
em tinta e sangue conjurado.
No entanto, no desdém com lhes foges,
desde essa comum trincheira
uma ética da escrita ergues; inda
no desconhecimento das suas incertas leis.
José Luís Tavares, in Agreste Matéria Mundo, Campo das Letras, Setembro de 2004, pp. 57-58.
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