BEBE SUMITO

Começo a ficar preocupado comigo. Esta noite sonhei que me chamava Pédi e era organizador de uma cimeira internacional chamada Bebe Sumito. Os meus amigos andavam revoltados, chamavam-me traidor, diziam que era uma hipocrisia eu andar para aí a estimular o consumo de sumos quando, na realidade, só bebia vinhos e aguardentes. Os sumos são o futuro da humanidade, defendia-me, temos de olhar para o futuro e esquecer o passado e fingir que o presente não existe. Os meus amigos reclamavam, achavam que o melhor era eu ser internado numa fábrica de unicórnios. No meu sonho, as fábricas de unicórnios eram carrinhas de caixa fechada onde se injectavam chips nos cidadãos de modo a que a transição digital desse frutos com os quais se faziam suminhos. O mais extraordinário é que o interior dessas carrinhas estava decorado à imagem e semelhança das garagens do Berardo e do Rendeiro, com as mais finas peças de arte contemporânea. Os meus amigos voltaram-me as costas, que é como quem diz "bloquearam-me". E eram mais de 1000. Fiquei apenas consigo, caro leitor, leitor amigo, consigo e com os meus 200 perfis falsos aos berros: Pédi Sumito, Pédi Sumito, Pédi Sumito. Embrulhei-me num lençol e alguém me confundiu com uma peça de Christo. A judiciária pegou em mim e fechou-me num armazém, de nada valendo as minhas explicações. Disse-lhes que era o organizador da Bebe Sumito. Eles responderam que eu bebia era um par de estalos nas trombas se não me calasse. E ali fiquei fechado num armazém poeirento, no mais estranho mutismo, para sempre confundido com uma peça desaparecida de Christo.