Devo a Eunice Muñoz uma grande parte do gosto que tenho
pelo teatro. Quando passou a ser possível, os meus pais levaram-nos algumas
vezes ao Parque Mayer para ver “revista à portuguesa”. Vivíamos em Rio Maior,
era uma aventura sair da província para ir à capital ver um espectáculo. Só
íamos para comemorar o 25 de Abril na Avenida da Liberdade, ver o Sporting no
saudoso Estádio José Alvalade ou, pelo Natal, comer uma mariscada no Solmar. As
incursões culturais implicavam outra logística. Eu era puto, não gostava
daquilo, não conseguia rir com o que fazia rir os outros. Aguentava-me, tal
como me aguentava quando íamos ver os ciclistas da Volta a Portugal em
Bicicleta. Uma seca. Até que em 1987 (pode não ter sido exactamente neste ano)
vi “Mãe Coragem e os Seus Filhos”, de Bertolt Brecht, na televisão, numa
adaptação de João Lourenço com Eunice Muñoz, Ruy de Carvalho e Irene Cruz. O
teatro era outra coisa, mesmo visto numa velha televisão a preto e branco
(talvez já fosse a cores). Mais tarde, estudante em Lisboa, reencontrei alguns
destes implicados no Teatro Nacional D. Maria II quando assisti a uma das peças
mais marcantes a que tive o prazer de assistir até hoje: “O Caminho para Meca”,
de Athol Fugard (sul-africano nascido em 1932, ainda vivo). Lá estavam Eunice
Muñoz, excelente, e Irene Cruz, com aquela voz inconfundível que me envia
sempre para os desenhos animados da infância. A imagem reproduz fotos de ensaio
no programa da peça, que ainda hoje guardo. Foi em 1995. Excelente actriz, a
Eunice Muñoz. Merece todos os meus aplausos.
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