sexta-feira, 8 de julho de 2022

JAMMIN’ WITH LESTER (1946)

 


Nem quero imaginar como será e evito pensar neste calor como o fim do mundo a ser anunciado, mas lá fora as hélices dos helicópteros andam agitadas e as sirenes não dão descanso aos ouvidos. Tento concentrar-me na leitura enquanto o suor escorre à superfície da pele e o pensamento reviste à invasão de imagens horríveis, animais mortos de sede, rios secos, florestas em cinzas, gente arrastada por avalanches provocadas pelo excesso de calor e cardumes inteiros de peixes a darem à costa com os buchos abarrotados de microplástico. O tráfego aéreo não pára de aumentar, o consumo de todo o tipo de porcarias dispensáveis gera montanhas de lixo depositadas a céu aberto em países miseráveis. Como lidar com isto? O pouco que está nas nossas mãos fazer passa pelo quê? Por mudar hábitos de consumo, por participar em manifestações, por exigir outras políticas, por votar em partidos que defendam o mundo natural, pela consciencialização das massas… Haverá retorno? Quero dizer, estaremos ainda a tempo de reverter a acelerada decomposição do meio que nos sustenta? Temos interesse nisso? As dúvidas atravessam-me como helicópteros a combater incêndios. Quem tenha filhos saberá da dor que é deixar-lhes um mundo pior do que encontrámos, supondo que tudo poderia ser diferente se em vez do prazer tivéssemos antes refreado a ganância. Ah, benditos ociosos que em orgias de gozo aplicastes vossas energias. A vós devemos a reverência que nenhum papa, nenhum mercenário, deverá merecer. Curvo-me a vossos pés, ó vagabundos do pensamento e putas voluntárias da alegria. Cuspo-vos a sombra, monarcas e tiranos da vaidade que só infortúnio trouxestes a este mundo.

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