terça-feira, 12 de julho de 2022

TAMPÕES

 

Esta noite sonhei que trabalhava numa agência de publicidade. Andava muito agitado porque me tinham encomendado um anúncio a tampões. Todos os anúncios a tampões que vi até hoje são como as cartas de amor, ridículos, desde logo por serem quase sempre dobragens de anúncios estrangeiros, o que torna até algo confrangedor reparar que os movimentos dos lábios não batem com a língua. Compreendo que não seja fácil vender semelhante produto, pelo que mergulhei num brainstorming exaustivo. Todas as ideias me pareciam parvas, desde uma em que aparecia uma rapariga muito livre e jovial e confiante e alegre a dizer qualquer coisa do tipo: deixa lá, se não servir para baixo, mete nos ouvidos. As coisas que uma pessoa sonha, meu Deus. Felizmente o sonho acabou bem, com um anúncio de sucesso inimaginável. Fiquei rico, comprei uma casa com piscina e tudo. E até tinha cavalos. O anúncio era mais ou menos isto: ao longo de semanas, rostos de raparigas diferentes apareciam a dizer "Liberte a Joana Vasconcelos que existe dentro de si". Isto era o teaser. Só depois, com toda a gente intrigada, questionando-se sobre que raio seria aquilo, apareciam as mesmas raparigas a trazer ao nível do rosto um tampão usado. Com um sorriso, largavam-no num baldinho ao lado da sanita em que estavam sentadas. E, por fim, um travelling godardiano levava-nos do baldinho ao famigerado lustre da artista portuguesa, pendurado no tecto da casa de banho. Enfim, sonhos. O slogan final era: "Enquanto houver luz, há tampões Vasconcelos".


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