domingo, 20 de novembro de 2022

LEGITIMAR O MAL

 
A participação no mundial de futebol do Catar legitima a corrupção, a violação de direitos humanos e a escravatura. É uma tripla que demonstra de modo claro e inequívoco a hipocrisia inerente a diferentes instituições com responsabilidades desportivas e políticas. A mensagem é: o dinheiro relativiza tudo. Portanto, esqueçamos quanto havíamos aprendido sobre ética, moral e axiologia. As tão apregoadas crises de valores já nada têm que ver com conflitos geracionais, são um produto da sobrevalorização do dinheiro e do capital. Face ao valor do dinheiro, a vida humana, o amor, a liberdade, nada valem hoje para quem está no poder e com o poder. É este o significado derradeiro da mensagem enviada por todos quantos desvalorizam e desprezam os direitos humanos, sejam eles quem forem. Menosprezar, por causa de um espectáculo desportivo, a escravatura de milhares de trabalhadores que pereceram em condições miseráveis a construir luxuosos estádios de futebol, não tem apenas um significado simbólico. É ciência pura. O mal está legitimado. Vladimir Putin está legitimado. Tudo quanto julgávamos repugnante e censurável está legitimado. Não há diferença nenhuma entre o mundial do Catar e o Coliseu de Roma. Acabámos de regredir até esses tempos, protegidos pela higiene do ar condicionado com que se disfarçam uma absoluta insensibilidade social e uma anestesiante indolência moral.

2 comentários:

Transhümantes disse...

Sem dúvida. O desmantelamento programado da sociedade como a conhecíamos está em marcha, a agenda ou as agendas estão implementadas à frente do nossos olhos mas, a passividade é mais forte. Nem vemos nem pressentimos o mal ou terror que se está a impor à espécie humana. Como disse uma vez o Eduardo Galeano, resta-nos escolher com que molho queremos ser comidos...isto se houver molho para todos, porque o mais seguro é que sejamos comidos a seco... não estivesse aí o "aquecimento global".

Saúde.

Transhümantes disse...

É verdade...não é preciso ir ao Catar, basta descer ali ao Alentejo, com a cartilha dos direitos humanos e perguntar-nos quem são os responsáveis e cúmplices que deverão ser criminalizados.

Abraço