sábado, 20 de maio de 2023

CARDÁPIO

 
Esta noite sonhei com uma revolução comunicacional no mundo da cultura. Todas as notas de imprensa, também conhecidas por preces, eram acompanhadas de cardápio comestível. O jornalista cultural mastiga mais do que lê, vê, escuta, pelo que a degustação animava o interesse e excitava a disponibilidade. Só o aroma a evento gastronómico enleava os escreventes, pelo que o biscoito insuflava-os de entusiasmo e apareciam. Ó se apareciam, era vê-los em bicha à porta de teatros e cineteatros e salas e grandes e pequenos auditórios, babando-se como cães de Pavlov a quem atiram beberetes, portos de honra e cocktails de fim de tarde. Ah, o croquete em vernissage, o maneirinho rissol de camarão à hora de entrada e à hora de saída. Ó bendito almoço de borla e jantar confeitado em amena cavaqueira, regado pela luz intensa das câmaras a disparar posts no Insta e no Facebook. Tchim-tchim. Cultura sem comes nem bebes, meus amigos, não é cultura. Se queres aparecer, que quem não aparece é como se não existisse, então dá de comer e de beber. Onde há mesa, o repórter não falha. É garantido.

1 comentário:

jpt disse...

Eu sou muito da chamuça