Esta noite sonhei que estava rico, muito rico, podre de
rico. A razão de tamanha riqueza era simples, criara uma rede social de
sucesso. Chamava-se Instafeio. As pessoas fotografavam tudo o que achassem feio
e partilhavam. Se partilhassem algo susceptível de ser julgado minimamente
bonito, o algoritmo bloqueava-as. Obviamente a polémica instalara-se, pois quem
feio ama bonito lhe parece. Havia muita fotografia de todos os tipos de
dejectos ao lado de obras humanas, de arte e não só, que o algoritmo não bloqueava.
Antes pelo contrário, promovia. Por exemplo, projectos alheios assinados pelo
engenheiro Sócrates, a estátua de Guterres em Vizela, os trambolhos da
Vasconcelos. 90% da poesia que hoje se partilha nas redes sociais passava
facilmente pelo crivo do Instafeio, ladeando com imagens de animais sarnentos,
os tenentes coronéis da CNN, comentadores de futebol e vídeos de betos a dançar
funk carioca. Grande sucesso tinham também as mistelas que se comem
diariamente, bem diferentes dos pratos requintados que o povo adora mostrar ao
mundo quando vai pastar fora. As caretas do Sebastião Bugalho a debater coisas
com a Joana Amaral Dias também marcavam pontos no Instafeio, pois o algoritmo
tinha sensibilidade para detectar a concentração de milhazes nos argumentos
usados. No vocabulário do Instafeio milhazes podia ser adjectivo de dois
géneros ou nome masculino sinónimo de cocó.
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