sábado, 24 de junho de 2023

INSTAFEIO

 
Esta noite sonhei que estava rico, muito rico, podre de rico. A razão de tamanha riqueza era simples, criara uma rede social de sucesso. Chamava-se Instafeio. As pessoas fotografavam tudo o que achassem feio e partilhavam. Se partilhassem algo susceptível de ser julgado minimamente bonito, o algoritmo bloqueava-as. Obviamente a polémica instalara-se, pois quem feio ama bonito lhe parece. Havia muita fotografia de todos os tipos de dejectos ao lado de obras humanas, de arte e não só, que o algoritmo não bloqueava. Antes pelo contrário, promovia. Por exemplo, projectos alheios assinados pelo engenheiro Sócrates, a estátua de Guterres em Vizela, os trambolhos da Vasconcelos. 90% da poesia que hoje se partilha nas redes sociais passava facilmente pelo crivo do Instafeio, ladeando com imagens de animais sarnentos, os tenentes coronéis da CNN, comentadores de futebol e vídeos de betos a dançar funk carioca. Grande sucesso tinham também as mistelas que se comem diariamente, bem diferentes dos pratos requintados que o povo adora mostrar ao mundo quando vai pastar fora. As caretas do Sebastião Bugalho a debater coisas com a Joana Amaral Dias também marcavam pontos no Instafeio, pois o algoritmo tinha sensibilidade para detectar a concentração de milhazes nos argumentos usados. No vocabulário do Instafeio milhazes podia ser adjectivo de dois géneros ou nome masculino sinónimo de cocó.

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