quarta-feira, 14 de junho de 2023

ISOLAMENTO

 

Thoreau aguentou dois anos e dois meses a mais de quilómetro e meio de qualquer vizinhança. Depois regressou à civilização. Não foram anos de total isolamento, chegou a dar festas na cabana, falava com indígenas que transitavam nas imediações.

Cristo afastou-se, Siddharta afastou-se, os anacoretas do deserto afastavam-se… Lao Zi, ou Lao Tse, lançou as bases com o “Tao Te Ching”, ou o “Tao Te King”. Uns, afastam-se geograficamente. Outros, afastam-se pelo silêncio. Não é por acaso que Matsuo Bashô ficou para a história como “O Eremita Viajante”.

Christopher McCandles, o rapaz imortalizado por Sean Penn com a adaptação para cinema do livro “O Lado selvagem”, de Jon Krakauer, não era anti-social, não era misantropo, não se pode sequer dizer que revelasse traços esquizóides ou uma qualquer forma subtil de autismo. Inspirado pela experiência de Thoreau, quis embrenhar-se nos bosques. Partiu à aventura rumo ao Alasca, por lá ficou, no ventre da terra, traído pelo veneno da Natureza.

Já Christopher Knight tinha vinte anos quando desapareceu sem deixar rasto, até passarem 27 anos antes que fosse novamente capturado nas armadilhas do social. Foi apanhado a roubar para sobreviver. O jornalista Michael Finkel escreveu a sua história em “Fora do Mundo”.

Há também a história recente de Mauro Morandi. Viveu sozinho na ilha Budelli, na Itália, por 32 anos. “O que eu mais amo é o silêncio”, dizia. Entretanto, cedeu a anos de pressão das autoridades que solicitavam a sua saída do local. A ilha é bonita de mais para um homem só.

Depois de se reformar, Masafumi Nagasaki passou a viver longe das multidões numa ilhota chamada Sotobanari, pertencente ao arquipélago Sakishima, do Japão. Dizem que era um local inóspito para um homem viver sozinho. Ali viveu sozinho e nu, por quase três décadas, o Robinson Crusoé japonês. Foi despejado, depois dos herdeiros de um falecido casal de Taiwan proprietário da ilha terem sabido do seu caso através de uma reportagem. Hoje, é obrigado a viver num pequeno apartamento.

Mais feliz foi a história de Germán. Instalou-se no arquipélago de Cíes, localizado na foz do estuário de Vigo, e nunca mais se voltou a mudar. Vivia sozinho desde meados dos anos 90 e era um espírito indomável. Morreu com 54 anos, vítima de cancro. Acolhia desconhecidos e recebia marinheiros, mas não tinha seguro de saúde.

E o último índio Tanaru, da Amazónia brasileira, foi encontrado morto a 23 de Agosto de 2022. Vivia isolado há quase três décadas, após a extinção da sua tribo. 

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