segunda-feira, 21 de agosto de 2023

SE É TARDE ME PERDOA (1959)

 

Agora que as férias se preparam para suspirar e um novo ano se compõe, vou traçar mapas de caminhos que ficaram por trilhar no último mês: um tem linhas paralelas que a dado momento se distanciam para deixarem de ser paralelas, formam nós, curvas e recurvas, redemoinhos que se desatam de si mesmas gerando afluentes. Olho para as palmas das mãos e descubro mapas assim, cavados pelo passar dos dias ao longo de quase cinco décadas. Por onde terei andado, pergunto-me. Andei por onde andamos todos, dentro de nós mesmos, a carregar pesos de vidas passadas inexistentes, ilusões de futuros descontinuados, a nossa vida perseguindo-nos como a sombra de um corpo imóvel numa tarde de Verão. Estarei a ser lírico? “Se é tarde me perdoa”, canta João Gilberto, e eu nem tarde nem cedo, a mesma hora de sempre no relógio parado da estação, os comboios avariados, a bilheteira fechada, nada de idas nem voltas, uma aventura. Será que ainda esperam por mim no destino adiado?

1 comentário:

sonia disse...

Ah! Que saudade do meu cantor predileto! O outro é Tony Bennet.