terça-feira, 8 de agosto de 2023

UM POEMA DE ANA MARQUES GASTÃO

 


ALEGRIA PERFEITA

Não lamento nada, nem
o peso nas costas, nem a
febre do caminho. Difícil
será abandonar o planeta
sem que o mal nos ronde,
mas nem isso amedronta.

Sigo o compasso dos pés,
a memória deixou de doer,
resta um fio a unir depois.
Nada a esquecer e, quando
lembro, deito fora o escuro,
o desejo de ter sido o que

não foi, esse brilho súbito
no centro do sono. Não será
isso a alegria perfeita, a
semente antes liberta?

Ana Marques Gastão, in Oníricas, Assírio & Alvim, Fevereiro de 2023, p. 58.

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