ESTRANHOS EM CASA
Somos todos estranhos na nossa casa,
animais extensos sem fundo ou face.
As vozes envolvem-nos.
Dobradiços, fazemo-nos confortáveis
nos leitos precedentes.
Temos eras a afluir-nos aos maxilares,
aos ossos que hão-de servir para outros
baterem nas era futuras.
Inscrevemo-nos em cartas sem remetente.
Não sabemos o que dizemos.
Astros cintilantes que rapidamente
se precipitam em combustão, doentes
de tudo, somos pedra e água, tigre e fumo.
Estranhos em casa, quer dizer, passageiros,
acessos, carne engolfada, tendão.
Estranha em casa quando ouço um trovão
entranhado nesta língua.
Elisabete Marques, Estranhos em Casa, Língua Morta, Outubro de 2022, p. 57.
2 comentários:
Bonito poema!
Também acho.
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