De todas as coisas que ontem fui ouvindo sobre Natália
Correia, a mais inteligente saiu da boca do escritor João de Melo: «Mais
conhecida do que lida.» E, Deus me perdoe, passei o dia com uma imagem na
cabeça de que não me consigo libertar sempre que Natália vem à baila. O
episódio não passou despercebido a António Cândido Franco na biografia sobre
Luiz Pacheco. Diz assim:
«No final de Janeiro - estava há cerca de um mês atrás
das grades - teve permissão de saída, para aguardar julgamento em liberdade.
Mais uma vez a intervenção do tio de Artur Ramos se mostrou socorro eficaz.
Quando se apanhou cá fora, a primeira coisa que fez foi desandar para casa de
Natália, onde tinha o filho e a companheira. Numa das últimas visitas de Maria
do Carmo ao Limoeiro, ficara-lhe a saltar uma pulga atrás da orelha. Fazia-lhe
sempre nas visitas a pergunta da praxe: «- Então como vai aquilo lá por casa da
Natália?» A rapariga respondia sem rodeios: «-Vai bem.» Dessa vez juntara
porém: «- Mas houve uma coisa que não percebi. Fomos para a casa de banho as
duas, ela despiu-se toda e começou a esfregar a rata no espelho.» Estava
desejoso de tirar aquilo a limpo, de ouvir a versão do outro lado e rir umas
boas gargalhadas com Natália à custa da cena.» (pp. 149-150)
A primeira vez que ouvi esta história foi, salvo erro, numa entrevista de Luiz Pacheco ao Blitz. Anos de 1990. Ainda hoje estou para perceber o sentido e o significado do gesto: «esfregar a rata no espelho.» Enfim, poetas.
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