quinta-feira, 14 de setembro de 2023

ESFREGAR A RATA NO ESPELHO

 


De todas as coisas que ontem fui ouvindo sobre Natália Correia, a mais inteligente saiu da boca do escritor João de Melo: «Mais conhecida do que lida.» E, Deus me perdoe, passei o dia com uma imagem na cabeça de que não me consigo libertar sempre que Natália vem à baila. O episódio não passou despercebido a António Cândido Franco na biografia sobre Luiz Pacheco. Diz assim:

«No final de Janeiro - estava há cerca de um mês atrás das grades - teve permissão de saída, para aguardar julgamento em liberdade. Mais uma vez a intervenção do tio de Artur Ramos se mostrou socorro eficaz. Quando se apanhou cá fora, a primeira coisa que fez foi desandar para casa de Natália, onde tinha o filho e a companheira. Numa das últimas visitas de Maria do Carmo ao Limoeiro, ficara-lhe a saltar uma pulga atrás da orelha. Fazia-lhe sempre nas visitas a pergunta da praxe: «- Então como vai aquilo lá por casa da Natália?» A rapariga respondia sem rodeios: «-Vai bem.» Dessa vez juntara porém: «- Mas houve uma coisa que não percebi. Fomos para a casa de banho as duas, ela despiu-se toda e começou a esfregar a rata no espelho.» Estava desejoso de tirar aquilo a limpo, de ouvir a versão do outro lado e rir umas boas gargalhadas com Natália à custa da cena.» (pp. 149-150)

A primeira vez que ouvi esta história foi, salvo erro, numa entrevista de Luiz Pacheco ao Blitz. Anos de 1990. Ainda hoje estou para perceber o sentido e o significado do gesto: «esfregar a rata no espelho.» Enfim, poetas.

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