sábado, 2 de setembro de 2023

UM POEMA DE DANIEL SAMOILOVICH

 


NOITE ATORMENTADA, INSÓNIA
 
O que estava unido
ou ligado dispersou-se, o que solto
 
estava a tormenta o juntou
numa argola sólida e grisalha
 
que gira junto ao chão.
Assim, o que temos ou cremos ter,
 
o que somos ou cremos ser,
o amor o dispersa
 
e coisas soltas, galhos, memórias idiotas,
partes de sonhos prestes a serem esquecidos
 
começam a andar em círculos,
começam a andar e a sua ronda obsessiva
 
não nos deixa dormir.
 
Versão de HMBF a partir do original coligido por Marta Ferrari, in “Antología – La poesia del signo XX en Argentina”, vol. 7 da colecção La Estafeta del Viento, dirigida por Luis García Montero e Jesús García Sánchez, Visor Libros, 2010, p. 445. Poeta, jornalista, tradutor, ensaísta, Daniel Samoilovich nasceu, a 5 de Julho de 1949, em Buenos Aires. Estreou-se em livro com “Párpado” (1973), já depois de levar alguns anos a trabalhar como jornalista. Esteve ligado a várias revistas e jornais culturais, quer na Argentina, quer em Espanha. Traduziu, entre outros, Horácio e Shakespeare. Director da revista “Diario de Poesía” entre 1986 e 2011, foi aí um dos impulsionadores do objectivismo: «o objectivismo não tem a pretensão de traduzir por palavras os objectos – tarefa quimicamente impossível -, mas sim a intenção de criar com palavras artefactos que tenham a evidência e a disponibilidade dos objectos».

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