ERITREIA
No
ano de 1943
na Eritreia
a meio do século
Virgínia e eu falávamos de um rapaz
que conhecia a linguagem das flores
entre nuvens de mosquitos
sob um calor sufocante
Ambos acreditávamos firmemente nos baobás e nas carícias
e nada tínhamos que ver com essa guerra
Mas ao chegar a Nova Iorque
Virgínia comprou um sombreiro
eu uma mota
e o rapaz de quem falávamos, não sei
esqueceu a linguagem das flores
Versão de HMBF a partir do original
coligido por Marta Ferrari, in “Antología – La poesia del signo XX en
Argentina”, vol. 7 da colecção La Estafeta del Viento, dirigida por Luis
García Montero e Jesús García Sánchez, Visor Libros, 2010, p. 417. Néstor
Perlongher nasceu a 25 de Dezembro de 1949, na cidade argentina de Avellaneda.
Formou-se em Sociologia no ano de 1982, emigrando posteriormente para o Brasil.
Fez mestrado em Antropologia Social e, no ano de 1985, era nomeado professor na
Universidade de Campinas. Publicou um livro de contos em 1975, “Evita vive”,
onde imaginava uma Evita companheira de prostitutas. No ano seguinte foi detido e
julgado, exilando-se posteriormente no Brasil. Inicialmente trotskista, mais
tarde declaradamente anarquista, foi militante da Frente de Libertação
Homossexual, uma das primeiras organizações LGBT do mundo, e seguidor da
religião de Santo Daime. O primeiro livro de poesia surgiu em 1980: “Austria-Hungría”.
É autor de uma obra que os críticos classificam de neobarroca, empenhada na denúncia de injustiças sociais. “Cadáveres”, de 1981, é um
extraordinário poema longo sobre criminosas violações dos direitos humanos
perpetradas pela ditadura militar argentina. Faleceu a 26 de Novembro de 1992,
devido a complicações relacionadas com a SIDA.
na Eritreia
a meio do século
Virgínia e eu falávamos de um rapaz
que conhecia a linguagem das flores
entre nuvens de mosquitos
sob um calor sufocante
Ambos acreditávamos firmemente nos baobás e nas carícias
e nada tínhamos que ver com essa guerra
Mas ao chegar a Nova Iorque
Virgínia comprou um sombreiro
eu uma mota
e o rapaz de quem falávamos, não sei
esqueceu a linguagem das flores
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